O Prémio Únicos, entregue no início deste mês num evento de pitch, juntou investidores, empreendedores, aceleradoras e incubadoras no Hood, em Lisboa.
Três startups chegaram à final, mas só uma saiu vencedora, a Inductiva Research Labs, que contará agora com um apoio de mais de 150 mil euros, entre 50.000€ de investimento da Shilling, serviços e créditos Google Cloud e comunicação.
“O importante para nós é o reconhecimento que este prémio nos traz”, diz Luís Sarmento, co-founder e CEO da Inductiva. “O percurso que temos feito é de muita ambiguidade, é arriscado e há momentos na nossa jornada em que nos sentimos sozinhos. Estamos a tentar fazer algo grande e diferente, mas nem sempre é fácil comunicar essa visão. Quando falamos com um investidor ou com outra startup que nos dá feedback positivo, isso deixa-nos mais confiantes no nosso percurso. Este prémio é isso, mas multiplicado por mil, e dá-nos muita confiança para continuarmos a ser ambiciosos e a acreditar que vale a pena arriscar”.
Questionado sobre a proposta da Inductiva para o mercado, Sarmento diz que o objetivo é “democratizar o acesso a ferramentas de simulação”. A ideia é permitir a empresas ou estados “prever cenários futuros, para diferentes tipos de situações, sejam industriais, médicas e até ecológicas”.
Para o fazer, a Inductiva usa “uma API que permite às pessoas que não têm conhecimentos profundos em computação usar ferramentas sofisticadas de simulação e aplicar aos seus casos de uso, o que será importantíssimo para o futuro”.
Assim, explica Luís Sarmento, “permitimos a quem está a desenhar um novo objeto — uma ponte, uma molécula ou um paredão para proteger a costa do mar — simular milhões de situações ou soluções. Atualmente isto faz-se explorando casos que já conhecemos, o que faz com que não consigamos fugir de soluções ‘chapa cinco’, perdendo muitas vezes a oportunidade de encontrar soluções melhores, mais resistentes ou mais baratas. Imaginemos o caso de um fármaco, em que há milhões de combinações possíveis de substâncias, aí queremos poder simular o maior número possível de possibilidades”, conclui.
As outras duas finalistas do Prémio Únicos foram a Pluggable.AI — que cria sistemas de notificação push não intrusivos, desenvolvidos a partir da Inteligência Artificial, capazes de inferir o momento ideal para interagir com utilizadores de smartphones — e a Ritmoo — que desenvolveu uma plataforma colaborativa para equipas que trabalham remotamente, automatizando fluxos de trabalho.
Antes de entregar o prémio à Inductiva, Bernardo Correia, Country Manager da Google Portugal, salientou que o país está hoje no pelotão da frente da Europa.
“As startups são, por definição, um poderoso motor de transformação digital e também por isso a economia tecnológica portuguesa atravessa um excelente momento: no pelotão da frente da Europa, Portugal conta com um unicórnio por cada 1,5 milhões de habitantes”, reiterou ao The Next Big Idea. E acrescenta que “o nosso papel na Google é apoiar as startups portuguesas a escalar rapidamente e chegar a novos clientes dentro e fora de Portugal”.
Masterclasses Únicos: um ativo para o futuro
Recorde-se que a iniciativa Únicos se divide em três dimensões: uma série de televisão do The Next Big Ideia, com transmissão na SIC Notícias e na SIC Internacional — que esteve no ar de outubro a dezembro de 2022 e cujos episódios pode rever aqui —; o prémio Únicos, que distinguiu uma startup com potencial para vir a integrar a nova geração de empresas portuguesas que são líderes nos mercados globais onde atuam; e, por fim, um conjunto de masterclasses com fundadores de startups portuguesas que se tornaram globais, onde estes partilham o seu percurso e aprendizagens.
Hugo Gonçalves Pereira, Managing Partner da Shilling, destaca estas marterclasses como um “ativo de partilha para o futuro” e um exemplo daquilo que tem sido também o compromisso da venture capital.
“A Shilling sempre foi um investidor que deu muita importância à necessidade de acrescentar valor ao ecossistema, temos sempre a porta aberta para dar feedback a empreendedores, mesmo que não sejam do nosso portfólio. Iniciativas como o projeto Únicos são super importantes. Nós, com fundo de venture capital, conseguimos reunir um conjunto limitado de pessoas, mas não conseguimos ter escala para impactar tanta gente de uma só vez. Iniciativas como esta têm uma projeção muito para além das pessoas que hoje se reuniram aqui”.
Assim, no âmbito da iniciativa Únicos, e ao longo das próximas semanas, o The Next Big Ideia vai publicar estas masterclasses, fruto das conversas com vários empreendedores de sucesso.
Diogo Mónica, Ricardo Marvão, Rui Bento, André Albuquerque, Cristina Fonseca, Miguel Santo Amaro, Humberto Ayres Pereira, Marcelo Lebre, Daniela Braga, Vasco Pedro e Gonçalo Gaiola partilham o percurso que os levou da ideia até à liderança de empresas que se destacam no mercado internacional. A eles, junta-se o know-how da Google e da Shiling.
Estas masterclasses são conduzidas por Rute Sousa Vasco, jornalista e uma das fundadoras da MadreMedia, empresa responsável pela produção do The Next Big Idea. A primeira já está disponível aqui.
“Democratizar o acesso ao conhecimento foi o propósito comum que nos uniu neste projeto e o desafio que a Google e a Shiling nos fizeram no ano do nosso 10.º aniversário, de convidar um conjunto de startups, todas com uma vocação e exposição global, para partilharem connosco o seu percurso foi totalmente ao encontro do que queremos fazer como media”, refere Rute Sousa Vasco.
“Há 10 anos que a missão do The Next Big Idea é dar a conhecer startups e novas ideias com impacto na economia e na sociedade. O desafio para os próximos 10 anos é, em linha com as nossas startups e projetos de inovação, ter também na comunicação e nos media uma escala internacional com uma plataforma que contribua para que, como país, entremos num outro campeonato. Os nossos unicórnios e startups de elevado potencial evidenciam que existe potencial para que a nossa economia possa evoluir como um todo, dentro e fora das nossas fronteiras. As masterclasses agora disponíveis no site do The Next Big Ideia são um contributo nesse sentido”.
Marcelo Lebre, co-fundador da Remote, presente no evento, refere que o conhecimento partilhado nestas masterclasses têm por base “as experiências que adquirimos no processo de fazer crescer uma empresa, os pontos altos e baixos, pelo que é conhecimento extremamente prático e pragmático” que agora fica disponível.
“Lembro-me de, quando estávamos a construir a Outsystems, várias vezes parar para pensar: ‘tenho este problema, com quem é que eu falo?’. Encontrar essas pessoas ou referências no ecossistema local era muito difícil e acabávamos por importar conhecimento que vinha de outros contextos e aí era fácil cometer erros. Aquilo que se está a fazer neste projeto é algo que tem em conta as nuances do ecossistema nacional e europeu, sendo uma ferramenta importante para que se crie um ciclo virtuoso de mais conhecimento que gera mais empresas”, partilha Gonçalo Gaiolas.
“Diz-se muitas vezes que temos a geração mais qualificada de sempre e o mesmo se passa hoje no empreendedorismo”, nota Miguel Santo Amaro, da Coverflex. “Não temos um ou dois ‘Cristianos Ronaldo’, temos vários exemplos de pessoas que transformaram indústrias e que são modelos a seguir. Mas é difícil muitas vezes ter acesso a esse tipo de pessoas. Iniciativas como estas, em que conseguimos chegar de forma direta ou indireta a esse conhecimento, com testemunhos, por exemplo, do Diogo Mónica ou do Marcelo Lebre, que acabaram de passar pelos problemas e processos, é extremamente valioso. Também é super gratificante saber que eles estão dispostos, mesmo ainda no percurso, numa fase em que não alcançaram tudo aquilo que queriam, dar esse testemunho, porque é a única forma de democratizar esse conhecimento”, acrescenta.
O evento de atribuição do Prémio Únicos contou ainda com a presença de Tiago Simões de Almeida, administrador do Banco de Fomento, que deu a conhecer os mecanismos financeiros disponibilizados pela instituição para apoiar empresas, onde se incluem os 1.300 milhões de euros do Plano de Recuperação e Resiliência.
Também António Dias Martins, Executive Director Startup Portugal, teve oportunidade de explicar ao The Next Big Ideia a oportunidade que o PRR representa para este ecossistema.
“Recebemos a responsabilidade de montar o programa de distribuição de fundos do PRR para este setor e fizemo-lo em tempo recorde. Estamos agora em condições de recuperar tempo e cumprir com as metas que nos comprometemos com a União Europeia para a execução desde programa”, começou por dizer.
Assim, em 2022 foi lançado “o programa de vouchers para startups, no valor global de 90 milhões de euros, e as candidaturas estão a fluir a bom ritmo. Agora, em janeiro, foi lançado o programa de vouchers para incubadoras, no valor de 20 milhões de euros, que visa permitir a estas entidades fazer um upgrade das suas capacidades e recursos, por forma a prestarem um melhor serviço às empresas incubadas”, enumera.
Para António Dias Martins, o papel de intermediário da Startup Portugal entre o ecossistema de empreendedorismo e organismos de decisão governamental é “fundamental”.
“Às vezes, há uma tendência, do lado dos privados, para se dizer que mais vale o Estado estar quieto, mas nesta área não é assim, porque o Estado tem um papel muito importante na criação de condições para facilitar o crescimento e instalação de novos projetos, estando inclusivamente em permanente concorrência com o que outros países estão a fazer nessa matéria. Se pararmos de criar condições para atrair talento, outros vão fazê-lo. À Startup Portugal cabe garantir esse papel de intermediação, de levar propostas que garantam que a estratégia nacional para o empreendedorismo é bem direcionada e destinada a colmatar as falhas que quem está no terreno, a desenvolver novas ideias, sente que são obstáculos ao crescimento e ao desenvolvimento”.
Neste sentido, António Dias Martins destaca a nova lei das startups, assumindo que a sua expectativa é de que venha a ser aprovada em sede de especialidade “a breve trecho”. Nesta lei estão previstas condições que “vão facilitar em grande medida a instalação e crescimento de startups”.
Desde logo, diz, “permite que haja um enquadramento legal para o conceito de uma startup. Parecendo que não, esse é um importante ponto de partida para que possamos criar novas iniciativas e políticas públicas para ajudar especificamente este tipo de empresas”. Por outro lado, esta legislação “resolve um problema antigo de enquadramento fiscal das stock options, que estava identificado há bastante tempo. As startups são empresas que numa fase inicial têm menos liquidez para remunerar os seus quadros e que tendem a recorrer à atribuição de ações da própria empresa para oferecer pacotes remuneratórios capazes de atrair o melhor talento. O regime fiscal que existe atualmente em Portugal é desajustado e não há mais nenhum país da Europa com um sistema tão prejudicial, portanto era urgente evoluir nesse campo”.
Em última instância, reitera, é garantir que “Portugal não seja apenas um país simpático do ponto de vista das condições meteorológicas ou das infra-estruturas que oferece para quem escolhe visitar o país, mas que seja, sobretudo, um bom sitio para iniciar e fazer escalar um negócio”.
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