Desde julho do ano passado que o Banco Central Europeu (BCE) tem vindo a aumentar as taxas de juro para combater a inflação, contudo, a subida dos juros dos depósitos tem sido muito lenta, apesar da pressão pública que tem havido sobre os principais bancos. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, pediu mesmo um “esforçozinho” aos bancos na remuneração dos depósitos.
Em dezembro de 2022, a taxa de juro dos novos depósitos em Portugal foi a mais baixa da zona euro, de 0,35% (bem abaixo dos 1,44% da média da zona euro). Já então em França e Itália as taxas estavam acima de 2% e mesmo em Espanha (país com forte presença de grupos bancários em Portugal) a taxa média era de 0,64%.
Em janeiro, a taxa de juro média passou para 0,56% e em fevereiro para 0,65%. Em março subiu para 0,90%, mas Portugal mantinha o segundo valor mais baixo entre os países da área do euro (apenas à frente de Chipre). Só em abril ultrapassou os 1% pela primeira vez desde 2015, fixando-se em 1,03% os juros médios dos novos depósitos, passando Portugal ao antepenúltimo lugar (à frente de Chipre e Eslovénia).
Em maio, últimos dados disponíveis, a taxa de juro média dos novos depósitos a prazo subiu para 1,26%, o valor mais alto em oito anos.
Face aos outros países da zona euro, Portugal continua entre as remunerações mais baixas, tendo o quarto valor mais baixo na área do euro, apenas à frente de Chipre (0,94%), Eslovénia (1,09%) e Croácia (1,25%).
Lituânia, Itália e França lideram com os juros mais altos (3,25%, 3,12% e 3,09%, respetivamente).
Apesar da evolução, a taxa de juro média dos novos depósitos era, em Portugal, quase metade da taxa de juro média da zona euro (2,44%).
A justificar a lenta progressão dos juros dos depósitos está, segundo analistas com quem a Lusa tem vindo a falar, a boa liquidez que têm os bancos – isto apesar de muitos clientes procurarem alternativas, como certificados de aforro (apesar de terem baixado a remuneração, o que motivou críticas ao Governo acusado de ceder a pressões dos bancos, o que recusou) – mas também o facto de os portugueses serem em geral pouco dinâmicos na procura de melhores produtos financeiros.
Em final de junho, em respostas aos jornalistas à margem de um almoço-debate do International Club of Portugal, o presidente do BPI, João Pedro Oliveira e Costa, disse que as taxas de juro dos depósitos continuarão a subir, mas que não está “disponível para pagar depósitos a qualquer preço”, pois quer preservar a rentabilidade do banco.
Os bancos aplicam o excesso de liquidez dos depósitos para aplicar no BCE, onde rende atualmente 3,50% (o valor da facilidade permanente de depósito).
A Lusa questionou os bancos sobre quanto ganharam, no primeiro trimestre, com os depósitos aplicados no BCE, mas apenas a Caixa Geral de Depósitos (CGD) divulgou este valor, tendo ganho 118 milhões de euros com aquelas aplicações.
Em meados de junho, no parlamento, questionado sobre o que tem feito o Governo para forçar os bancos a subir os depósitos, o secretário de Estado das Finanças disse ter indicação de que o banco público CGD está a reforçar os juros dos depósitos, considerando que isso vai incentivar a concorrência com melhoria das remunerações.
A lenta progressão dos juros dos depósitos contrasta com a rápida subida dos juros dos créditos, acompanhando a subida das taxas Euribor.
Em maio, o juro médio do novo crédito à habitação superou 4% pela primeira vez em 11 anos, fixando-se em 4,15%, segundo dados do Banco de Portugal (BdP), sendo que a subida das taxas Euribor também faz aumentar o preço do crédito antigo (com muitas famílias já a reestruturarem créditos face à dificuldades em os pagar).
A diferença entre o que bancos pagam nos depósitos e o que cobram no crédito tem beneficiado a margem financeira dos bancos, fazendo subir os lucros.
No primeiro trimestre, os cinco maiores bancos tiveram lucros agregados de 919,3 milhões de euros, mais 54% do que nos primeiros três meses de 2022.
O BCP teve ganhos de 215 milhões de euros (mais 90%) a Caixa Geral de Depósitos (CGD) de 285 milhões de euros (mais 95%), o Novo Banco 148,4 milhões de euros (mais 4%), o Santander Totta 185,9 milhões de euros (mais 19,6%) e o BPI 85 milhões de euros (mais 75%).
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