A Loja “A Vida Portuguesa”, situada no rés-do-chão da Rua Anchieta, n.º11, no Chiado, em Lisboa, vai no primeiro semestre de 2024 por força do alargamento da atividade do Alojamento Local (AL) já existente no prédio onde se insere esta montra comercial de marcas tradicionais portuguesas.

“É com imensa tristeza que anunciamos o encerramento da loja A Vida Portuguesa na Rua Anchieta no final da próxima Primavera”. A informação foi transmitida por Catarina Portas num comunicado publicado na rede social Meta (ex-Facebook). “O espaço ocupado agora pela nossa loja será transformado, a partir do próximo verão, num complemento ao alojamento local de luxo em que se transformou nos últimos anos o prédio que ocupamos”, notificou.

A fundadora da marca Vida Portuguesa, outrora Casa Portuguesa, aproveita a “morte” desta loja, a primeira, aberta em 2006 e lança o debate sobre o futuro do comércio nos centros das grandes cidades.

“Vale a pena refletir sobre isto. Tal como o turismo nos ajudou a passar a crise de 2008, hoje são os seus próprios agentes a condenar ao desaparecimento o comércio independente da cidade. Não somos uma exceção”, alertou.

Vai mais longe em conversa com o jornal Público.“As coisas estão a tornar-se muito complicadas, não apenas para os comerciantes, mas também para a cidade. Criou-se um grande desequilíbrio, causado pelo turismo. Temos de começar uma discussão pública em torno do comércio local e do que queremos para a cidade”, avisa.

“Não tenho nada contra o turismo. Ele é importante. Mas as cidades fazem-se de equilíbrio e, neste momento, estamos numa fase de desequilíbrio”, sublinha ainda na conversa com aquele diário.

“Chiado e a Baixa transformam-se numa paisagem indistinta de marcas globais”

No comunicado, publicado no antigo Facebook, recua às razões da abertura da primeira loja da Vida Portuguesa. “Quisemos provar que era possível fazer uma loja de espírito contemporâneo, preservando escrupulosamente um espaço antigo que encontrámos abandonado, com um objetivo que nos fazia sentido: vender o que de melhor Portugal fabrica, não temendo o tradicional nem as marcas de sempre”, aludiu.

Na publicação, Catarina Portas deixa vários alertas. Olha para o comércio e cataloga-o como, “por natureza oportunista”, alerta que o centro da capital portuguesa está em “mutação” e que o “Chiado e a Baixa transformam-se numa paisagem indistinta de marcas globais que se multiplicam em espaços de forma sufocante”.

Lança farpas aos restaurantes e espaços de vendas de pastéis de nata que “ocupam os lugares do comércio do quotidiano dos moradores (mercearias, drogarias, livrarias, talhos, peixarias ou padarias)” e questiona as razões por detrás das “centenas de lojas de souvenirs, espalhadas pela cidade histórica, tiradas a fotocópia, que não passam de comércio de fachada para um negócio, já por demais conhecido, de imigração mais ou menos legal”, lê-se.

Para a fundadora da marca “Vida Portuguesa” o atrás descrito “são os males de um turismo que procura apenas o lucro individual e só consegue tropeçar no curto prazo, sem querer entender as transformações que opera na cidade a médio e longo prazos e assumir as suas responsabilidades numa estratégia mais vasta e melhor pensada, para todos”.

Deixa um lamento. “Não, não está fácil para os lojistas independentes, com caráter e com personalidade, com diferença e ousadia, conseguirem arranjar e manter o seu lugar no centro de Lisboa”, sustenta.

Anunciado o fecho da loja do Chiado, depois de já ter encerrado na rua Ivens, em 2016 e no Porto, perto dos Clérigos, em 2020, a A Vida Portuguesa mantém atividade em Lisboa, no Largo do Intendente e no Time Out Market, do Mercado da Ribeira, onde se propõe a “divulgar e vender o melhor da produção portuguesa, seja ela industrial ou artesanal, oriunda de mais de 400 diferentes fornecedores em todo o país”, finaliza.