O betão é em grande parte responsável pelo salto qualitativo e quantitativo da Região Autónoma da Madeira (RAM) registado no decurso das últimas décadas. Parece paradoxal casar o despejo de cimento, 157,145 toneladas, em 2022, com o desenvolvimento da ilha de origem vulcânica, cuja extensa flora exótica, parte da Floresta Laurissilva, foi considerada Património Mundial pela UNESCO, desde 1999.

No entanto, os dados parecem comprovar que o aeroporto, os hotéis e demais oferta de hospedagem (382 novos edifícios, em 2022, o número mais alto dos últimos 10 anos, de acordo com as Estimativas das Obras Concluídas na Região), assim como as estradas, vias rápidas, túneis, pontes, o terminal de cruzeiros e a marina do Funchal encolheram a ilha e estreitaram (mas não eliminaram) as assimetrias existentes. As mais de quatro horas entre Funchal e Porto Moniz, em meados dos anos 80, não são mais do que uma memória distante que os 50 minutos de hoje apagam.

Essencialmente a viver de quem aterra (ou atraca) na Pérola do Atlântico, a Madeira mudou muito desde a criação do Centro Internacional de Negócios ou Zona Franca na Madeira, em 1980, da Sociedade de Desenvolvimento da Madeira (1984) e a recente chegada das companhias aéreas low-cost. O arquipélago aproximou-se do mundo e a descoberta do mundo em relação à Madeira mudou e tem vindo a mudar a face do arquipélago.

O turismo é o dínamo económico dos dois grandes pedaços de terra vulcânica e uma das fontes de receita e criação de emprego da RAM (23,836 mil, um peso total de 17%) e responsável por 29% do PIB na região, a maior fatia do queijo comparado com outros setores de atividade, de acordo com dados estatísticos do governo regional e INE.

Em 2022, o turismo gerou um valor recorde de proveitos na ordem dos 528,8 milhões de euros, num ano que fechou com um total de 9,6 milhões de dormidas, o mais alto número registado até à viragem do ano civil.

Os números históricos encaminham-se para serem, entretanto, ultrapassados. De janeiro a julho do corrente ano, registaram-se 6,2 milhões de dormidas (um aumento de 18,5% face a período homólogo), em resultado de 1,2 milhões de hóspedes (mais 23%).

Cruzeiros e aviões despejam milhões

Quem vai de visita à Madeira e ao Porto Santo chega pelo ar e pelo mar. O mercado alemão (188 mil) ainda é o maior fornecedor, seguido do Reino Unido (179 mil), França (109 mil) e Polónia (58 mil).

Os passeios na marginal do Funchal continuam, mas há também quem se aventure nas Levadas, faça turismo desportivo, observação marítima e viaje de ponta a ponta na ilha, muito para além da estrada Monumental.

A região recebeu o prémio de 2022 Melhor Destino Europeu de Cruzeiros nos World Cruise Awards. Até agosto, desembarcaram 156 navios de cruzeiro, o que representa 331 508 passageiros, um aumento mais de 100% quando comparado com o ano passado.

Setembro é época de abertura do “ano civil” a estas cidades ambulantes e até ao final do ano, de acordo com a APRAM (que prevê 10 escalas inaugurais), devem ocorrer 125 escalas de navios de cruzeiro no Funchal e cinco no Porto Santo, o que representará 275 mil passageiros e 90 mil tripulantes.

Olhemos agora para cima, para observar os números de quem aterra no aeroporto Cristiano Ronaldo, na pista acrescentada ao mar com 10 rotas e 10 voos por semana (em comparação com os iniciais sete). Hoje a Madeira tem ligações a 21 países e 50 aeroportos através de 31 companhias aéreas, muitas delas low-cost. Outubro está ao virar da esquina e os mais de 231 mil lugares (239 mil quando combinado com o Porto Santo) em oferta para a Madeira é o valor mais alto de sempre.

E quem chega não se queixa de falta de escolha na hora do descanso. Há luxo para deitar e requinte no fine dining, já que a cidade do Funchal tem no menu dois restaurantes com estrela Michelin.

A casa nómada

Há, obviamente, outros setores que alimentam a economia local, mas o do turismo conseguiu, ao longo dos anos, abrir portas a outras oportunidades. Afinal, cresce em números e alimenta o sonho de quem procura viver com o Oceano Atlântico rodeado de todos os ângulos.

O mercado de segundas casas para cidadãos estrangeiros já é uma realidade na Madeira. Segundo os dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), a população estrangeira residente na RAM cifrava-se em 10 405 pessoas (5 098 homens e 5 307 mulheres), números de 31 de dezembro de 2021, o valor mais elevado desde 2008.

Para além dos “regressados” da Venezuela (22,6%), Reino Unido (11,7%), Brasil (9,5%) e Alemanha (8,5%) dão sangue novo a uma região que perdeu população de um censo (2011) para o outro (2021). 267 394 habitantes que comparam com 252 693, quase menos 10 mil. O saldo migratório de 2021 (1 924) ajudou a aumentar a população residente na Região da Madeira nesse ano.

Por fim, entre quem vai e quem vem, um segmento tem alterado a paisagem demográfica. Tornar local quem é nómada digital é o propósito do programa “Digital Nomads Madeira Islands”. Distinguido na categoria Turismo de Inovação, no âmbito do Prémio Nacional de Turismo, arrancou em novembro de 2020 e deu origem à Digital Nomad Village, na Ponta do Sol, na costa sudoeste da ilha da Madeira. O investimento de 25 mil euros gerou 18 milhões e captou cerca de 8 mil nómadas digitais. Estes procuram a junção do melhor dos dois mundos, é o trabalho aliado ao turismo, o que também ajuda a mudar a face da ilha.

Hoje é dia de reflexão, mas este domingo, 24 de setembro, os madeirenses são chamados a decidir sobre o futuro da região autónoma. E o SAPO24 estará a acompanhar a par e passo estas eleições, dando-lhe conta dos resultados e fazendo a análise em 24.sapo.pt .