Numa entrevista ao jornal Público, o governador do Banco de Portugal e membro do conselho de governadores do BCE, Mário Centeno, comentou a revisão da estratégia, que considera como um “passo importante” para debater “o conceito de forward guidance, o papel do programa de compras de ativos que já existia e do programa de compras de emergência ligado à pandemia - PEPP”.

Mário Centeno referiu ainda que, para Portugal, a revisão tem a vantagem de reforçar a capacidade do BCE para “manter políticas monetárias acomodatícias em períodos de subida da inflação acima dos 2%".

"Portugal vinha de um conjunto de anos de convergência e houve muito indicadores que convergiram com a zona euro. Não é assim no endividamento, de facto, onde apesar da convergência, ainda estamos muito acima. E isso torna-nos mais sensíveis a flutuações na taxa de juro", explica o ex-ministro das Finanças.

"Desse ponto de vista, creio que é uma boa notícia para a necessidade que Portugal tem de ter um período continuado de transição de convergência destes indicadores com a zona euro", acrescenta, observando que esta mudança pode ser uma “oportunidade” para acelerar a redução da dívida. “Não podemos perder essa oportunidade, temos de retomar esse caminho assim que a evolução da pandemia o permitir", reforça, relembrando que "em Portugal, não podemos ficar parados".

“Aprendemos as lições do passado, nomeadamente quando o papel do banco central não foi exatamente aquele que poderia ter sido. Refiro-me a questões como a da liquidez, dos mecanismos de transmissão da política monetária, o entendimento amplo do que significam os riscos à estabilidade financeira e do impacto que a política monetária tem nesses riscos. Também fazer com que a política monetária esteja enquadrada com outras políticas, por exemplo a política macroprudencial no caso dos riscos para a estabilidade financeira, mas também a dimensão do relacionamento com a política orçamental”, explicou o governador.

Mário Centeno acrescenta ainda que “todo o trabalho que foi feito para chegar a estas duas páginas de declaração, mais quinze páginas da nota que acompanha essa declaração, revela a importância deste conjunto mais amplo de perspetivas que hoje se associa à política monetária”.

Questionado sobre a referência às lições do passado, referiu que se referia "às duas últimas crises, na verdade, à crise financeira e depois à crise das dívidas soberanas".

"Não foi apenas responsabilidade da política monetária, mas uma das âncoras que hoje identificamos como estando bastante diferente no enquadramento em que nos movemos é a completude das instituições do euro. Ainda que insistamos, e bem, que elas não estão completas, elas hoje estão bastante mais maduras e enquadram, não só a política monetária, mas também a orçamental, e isso é bom", acrescentou.

Apesar de ter limitado a entrevista ao tema da revisão estratégica do BCE, visou ainda o Novo Banco, referindo que “atraso” para lidar com esse problema se tornou num processo "penoso" para a economia portuguesa. Mário Centeno defende que é necessária "celeridade, clareza e efetividade" na forma como se lida com estes casos.

"No setor financeiro não há azar, há procrastinação. Situações bancárias que se prolongam sem viabilidade ao longo de muito tempo, geram comportamentos negativos, quer do lado do sistema bancário, que fica de mãos atadas a alimentar no seu balanço créditos que não têm destino previsivelmente bem sucedido, quer do lado dos mutuários que insistem em encontrar soluções”, afirmou.

Dando o exemplo de outros países, refere que mesmo na Alemanha também há "fenómenos de corrupção e malversação da gestão bancária semelhantes" aos verificados em Portugal, sendo que esses "fenómenos são devidamente identificados e corrigidos, com as consequências para quem os pratica". "Nós provavelmente atrasamo-nos a tratar deles no sistema bancário e a tratar deles no sistema judicial", admite.

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