Num artigo de opinião publicado no Financial Times, Draghi defendeu que é necessário mobilizar todo o sistema financeiro face ao choque económico (mercado de dívida, sistema bancário) causado pela Covid-19 e que tem de ser feito urgentemente, sem atrasos burocráticos.

Segundo Draghi, que saiu do Banco Central Europeu (BCE) em 2019, esta pandemia é uma “tragédia humana potencialmente de proporções bíblicas” e se são necessárias as medidas tomadas pelos governos para proteger vidas humanas, essas acarretam elevados custos económicos e uma “profunda recessão é inevitável”, pelo que o desafio agora é agir com força e rapidez suficiente para prevenir que a crise se transforme numa prolongada recessão com danos irreversíveis.

“É claro que a resposta envolve um aumento significativo da dívida pública”, avisou, com os Estados a endividarem-se significativamente para absorver as perdas do setor privado.

Para Draghi, é fundamental dar subsídios aos trabalhadores que percam os empregos, mas deve-se sobretudo impedir as pessoas de perderem os seus empregos e as empresas de perderem a capacidade produtiva para que famílias e empresas consigam posteriormente restabelecer-se.

Defendeu, assim, que é necessário mobilizar todo o sistema financeiro para suportar a economia, desde logo com os bancos a financiarem a economia a custo zero para proteger as empresas, tornando-se um veículo de políticas públicas, dando os governos garantias de Estado a esses empréstimos.

Além disso, o custo dessas garantias não se deve basear no crédito das empresas, mas ser zero, independentemente do custo de financiamento do Estado.

Contudo, se há empresas que terão capacidade de pagar a dívida depois da crise, outras há que não conseguirão, em que a sua capacidade de se manterem nos negócios e de manter os postos de trabalho só existirá se a dívida for cancelada.

A questão, avisou, é que se isso não for feito haverá uma destruição permanente de grande parte da capacidade produtiva da economia e, logo, das receitas do Estado, o que considera que seria muito mais prejudicial à economia e mesmo aos ‘ratings’ dos Estados.

Draghi considera que, tendo em conta os atuais e prováveis níveis futuros das taxas de juros, o aumento da dívida pública não aumentará os seus custos de manutenção.

Para Draghi, a Europa tem algumas características que lhe permitem lidar com este “choque extraordinário”, com uma estrutura financeira que permite canalizar recursos para a economia e um setor público forte, capaz de coordenar uma resposta política rápida. A questão, refere, é que a velocidade de agir é absolutamente essencial para a eficácia.

“Diante de circunstâncias imprevistas, uma mudança de mentalidade é tão necessária nesta crise quanto seria em tempos de guerra”, afirmou, considerando que “o custo da hesitação pode ser irreversível”.

Em Portugal, o Governo disponibilizou linhas de crédito garantidas pelo Estado no valor total de 3.000 milhões de euros para financiar necessidades de tesouraria e fundo de maneio de empresas, valor que os bancos consideram muito baixo face às necessidades das empresas afetadas pela severa crise provocada pela Covid-19.

Na entrevista da semana passada à TVI, o primeiro-ministro, António Costa, disse que estas linhas de crédito vão ter um 'spread' (margem de lucro) que varia entre 1% e 1,5% e que o empréstimo poderá beneficiar de uma garantia de Estado entre 80 a 90%. Segundo o governante, a Comissão Europeia impôs que uma parte não seja garantida pelo Estado.

O novo Coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou cerca de 450 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram cerca de 20 mil.

Em Portugal, já foram registadas 60 mortes e 2.544 infeções, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde.

Vários países adotaram medidas excecionais, incluindo o regime de quarentena e o encerramento de fronteiras, entre os quais Portugal, o que implica a paralisação de grande parte da atividade económica com efeitos severos no rendimento das famílias e das empresas.

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