No final de dezembro de 2013 – os CTT entraram em bolsa em 05 de dezembro daquele ano -, os Correios de Portugal contavam com 2.443 pontos de acesso, dos quais 623 lojas e 1.820 postos de correio. Em setembro do ano passado, que são os últimos dados disponibilizados pela empresa liderada por Francisco de Lacerda, os pontos de acesso totalizavam 2.368, dos quais 611 lojas e 1.757 postos de correio.
Ou seja, os CTT contam com menos 75 pontos de acesso do que no final de 2013.
No entanto, quando se contabiliza o número de trabalhadores, verifica-se um aumento de 3,7% entre final de dezembro de 2013 (12.383) e 30 de setembro de 2017 (12.843). No final dos primeiros nove meses do ano passado, os CTT tinham mais 460 trabalhadores do que há quatro anos.
Em 30 de setembro, o número de trabalhadores tinha aumentado 0,5% face a igual período de 2016 (quando eram 12.774), o que incluiu “a integração de 186 trabalhadores da Transporta, em virtude da sua aquisição em maio” do ano passado, lê-se nas contas do terceiro trimestre dos CTT.
No período em análise, “verificou-se uma diminuição de 14 efetivos do quadro e um aumento de 83 contratados a termo”, referem os Correios de Portugal, salientando que “nesta evolução teve especial impacto o aumento de trabalhadores no Banco CTT e na área de negócio Expresso e Encomendas com a integração da Transporta”.
Excluindo o número de trabalhadores da Transporta, o total seria 12.657.
Os CTT têm duas grandes áreas, as operações e distribuição, que contavam em setembro com 7.147 trabalhadores, relevando a importância da função dos carteiros distribuidores (que totalizam 4.645) e a rede de lojas (com 2.815), adiantam os CTT, que sublinham que, “juntas, estas áreas representam cerca de 88% do número” de funcionários da empresa.
Os CTT têm estado na ordem do dia, com os partidos políticos e sindicatos preocupados com a qualidade do serviço postal universal, bem como com o plano de reestruturação anunciado em dezembro, o qual prevê a redução de 800 trabalhadores da área das operações devido à quebra do tráfego do correio.
Entre 2013 e 2016, os CTT sofreram uma quebra de 12% em termos de tráfego do correio endereçado, para 780,2 milhões de objetos.
Por exemplo, nos primeiros nove meses do ano passado, os CTT registaram 555,4 milhões de objetos no total de correio endereçado, o que representou uma queda homóloga de 6,1%.
Para a queda do tráfego do correio endereçado contribuiu o decréscimo do tráfego de correio transacional, o qual, por sua vez, “deveu-se sobretudo ao decréscimo do correio normal”, que teve um peso de 79% nos primeiros nove meses.
“Esta queda de tráfego tem origem na redução dos consumos por parte de grandes clientes empresariais dos setores da banca e seguros (-11,2%) e das ‘utilities’ [serviços básicos] e telecomunicações (-8,9%) que prosseguem a substituição do correio físico (nomeadamente para envio de extratos bancários e faturas) por outras formas de comunicação digital”, explicam os CTT.
Já o negócio de Expresso e Encomendas, registou um aumento do tráfego entre 2013 e 2016 de 20,6%, para 14,6 milhões de objetos.
Parlamento ouve regulador, sindicatos, trabalhadores e utentes dos CTT
O parlamento inicia hoje um conjunto de audições sobre os CTT, depois de há cerca de um mês os Correios de Portugal terem anunciado um plano de reestruturação.
A Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom), sindicatos, Comissão de Trabalhadores e movimento de utentes dos CTT - Correios de Portugal são hoje ouvidos, no parlamento, pela Comissão de Economia, Inovação e Obras Públicas sobre a reestruturação da empresa.
Em causa está um requerimento apresentado pelo PS em dezembro passado solicitando ao Governo que promova uma avaliação das responsabilidades contratuais face à concessão em vigor entre o Estado e os CTT, documento no âmbito do qual foram aprovadas tais audições.
Em dezembro passado, os CTT divulgaram um Plano de Transformação Operacional, que prevê a redução de cerca de 800 trabalhadores na área das operações em três anos, um corte de 25% na remuneração fixa do presidente do Conselho de Administração e do presidente executivo, além da otimização da implantação de rede de lojas, através da conversão de lojas em postos de correio ou do fecho de lojas com pouca procura.
Já este ano, os Correios confirmaram o fecho de 22 lojas no âmbito deste plano de reestruturação, situação que, segundo a Comissão de Trabalhadores dos Correios de Portugal, vai afetar 53 postos de trabalho.
A privatização dos CTT, que rendeu aos cofres do Estado mais de 900 milhões de euros, foi feita a dois tempos – em 2013 e em 2014 – em operações que renderam, respetivamente, 579 milhões de euros (70% do capital social da empresa a 5,52 euros por ação) e 343 milhões de euros (30% do capital social detido pela Parpública ao preço de 7,25 euros por ação).
Da criação dos CTT ao anúncio do plano de reestruturação
Com a criação do correio público, em 1520, deram-se os primeiros passos para os CTT, empresa privatizada e em bolsa desde 2013, e que em dezembro anunciou um plano de reestruturação.
1520
Em 06 de novembro, o rei D. Manuel I publicou a Carta Régia que criou o ofício de Correio-mor. Este serviço era público e qualquer cidadão poderia utilizá-lo mediante o pagamento de uma quantia. O Correio-mor foi um cargo de nomeação régia até 1606, quando foi vendido pelo rei Filipe II a Luís Gomes da Mata, que manteve a posse da exploração dos correios durante dois séculos e modernizou os serviços.
1912
Em 16 de novembro, o serviço metropolitano de transferência de fundos por correio foi aprovado em decreto. O serviço assentava na emissão de ordens de pagamentos especiais - designados Vales de Correio - destinados a serem pagos em Portugal.
1961
Com a criação dos Certificados de Aforro, os CTT tornam-se na única rede de contacto em Portugal a distribuir títulos de dívida pública. Em março, é aprovado um decreto onde o pedido dos títulos da dívida pública e a sua futura amortização seria efetuada nas estações dos Correios de Portugal.
2013
- Em 06 de junho, o presidente dos CTT, Francisco de Lacerda, afirmou, em entrevista à Lusa, que o processo de reorganização da rede dos correios estava a ser terminada, representando o fecho de 124 estações e a abertura de 78 postos de correio. A diferença entre estes dois modelos é que as estações pertencem aos CTT, enquanto os postos são atividade de correios ligados a parceiros, que podem passar por juntas de freguesia ou comércios.
- Em 05 de dezembro dá-se o ‘pontapé de saída’ para a privatização dos CTT com a entrada em bolsa. As ações dos Correios de Portugal começam a ser negociados na Euronext Lisbon. A venda de 70% do capital dos Correios de Portugal permitiu um encaixe de 579 milhões de euros. Só a Oferta Pública de Venda (OPV) rendeu aos cofres do Estado 115,3 milhões de euros (10,8 milhões das ações reservadas aos trabalhadores dos CTT e 104,5 milhões de euros das ações adquiridas pelo público em geral), sendo o remanescente dos investidores institucionais.
Na altura, os investidores institucionais ficaram com 56%, o público geral com 12,62%, os trabalhadores dos CTT com 1,38%.
2014
Ano da conclusão da privatização dos Correios de Portugal, que foi efetuada em duas fases.
Em 05 de setembro, a Parpública, através do qual o Estado tinha uma posição de 31,5% do capital dos Correios de Portugal, vendeu a sua posição, ao preço de 7,25 euros por ação, o que representou um encaixe de 343 milhões de euros.
2016
Em 18 de março, os Correios de Portugal arrancam com o Banco CTT, que abre as portas ao público com as primeiras 51 agências, dando início à sua atividade com uma oferta de produtos e serviços financeiros simples.
2017
- Em 26 de janeiro, os CTT lançam crédito à habitação do Banco CTT, oferta que estaria disponível em todas as lojas da rede até final de fevereiro.
- Em 21 de fevereiro, o Governo anunciou que tinha aplicado um conjunto de 10 multas aos CTT por incumprimento do contrato de prestação do Serviço Universal Postal, que ascendiam a 151 mil euros, resultantes de um processo de contraordenação instaurado em 2014 pela Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom).
- Em 13 de dezembro, o Governo anunciou a criação de um "programa de trabalho" até ao final de março para analisar o serviço dos CTT e "possíveis ações de melhoria", depois de o PS ter pedido uma avaliação das responsabilidades contratuais com o Estado.
- Em 14 de dezembro, a Anacom disse que estava a analisar os critérios de qualidade do serviço universal postal dos CTT, cujas eventuais recomendações poderão ser conhecidas durante o primeiro semestre de 2018.
- Em 19 de dezembro, os CTT divulgaram o Plano de Transformação Operacional, o qual prevê a redução de cerca de 800 pessoas nas operações da empresa ao longo de três anos devido à quebra do tráfego do correio.
Este plano de reestruturação, que inclui a redução das remunerações da administração, estima "uma potencial redução de cerca de 800 ETI [equivalente a tempo inteiro] nas operações ao longo de três anos, em consequência da queda do tráfego do correio, de um total de 6.700 efetivos", dos quais 6.200 efetivos e perto de 500 contratados a termo, naquela área.
- No dia 21 de dezembro, no primeiro de dois dias de greve dos trabalhadores, o secretário-geral da central sindical CGTP, Arménio Carlos, defendeu a necessidade de “fazer retornar os CTT à esfera do setor empresarial do Estado”. A 'chamada' reversão da empresa para o Estado tem sido defendida pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda.
- Em 28 de dezembro, a Autoridade da Concorrência anunciou que os CTT iriam alargar aos concorrentes o âmbito da oferta de acesso à rede postal dos Correios de Portugal, segundo um conjunto de compromissos apresentados em 22 de dezembro. Já os CTT adiantaram que a proposta de compromissos apresentada "contribui para promover a concorrência" e "está de acordo com princípios de transparência e de adequação à procura".
2018
- Em 02 de janeiro, os CTT confirmaram o fecho de 22 lojas no âmbito do plano de reestruturação que, segundo a Comissão de Trabalhadores dos Correios de Portugal, vai afetar 53 postos de trabalho.
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