Apesar da falta da chuva e do muito calor que se fez sentir este ano, o diretor daquela que é considera a maior adega cooperativa da região dos vinhos verdes, Armando Fontainhas, antevê “um dos melhores anos de sempre da história da adega” no distrito de Viana do Castelo.

“Temos tudo para que o ano de 2022 seja um ano de excelência”, sublinhou, “com uvas de qualidade excecional, com boas graduações alcoólicas”.

“Sem qualquer vestígio de podridão. Os cachos estão fantásticos. Estamos a receber uvas como raríssimos anos recebemos na história da adega”, destacou.

Em Monção, que juntamente com Melgaço forma a sub-região demarcada dos Vinhos Verdes, as vindimas começaram no dia 03 de setembro, com a colheita das uvas brancas das vinhas plantadas nas zonas mais baixas do concelho, e terminam hoje, nas zonas de montanha, como a aldeia de Merufe, onde crescem os cachos de uva tinta.

Este ano, a produção das uvas brancas, “caiu cerca de 4% em relação a 2021, um ano recorde na produção de uva branca. A uva tinta, acompanha a tendência.

“Apesar de uma ligeira quebra em relação ao ano passado, o mais importante, é a qualidade fitossanitária da uva que é fantástica”, realçou o diretor da adega.

Segundo as estimativas do responsável, as vindimas resultaram “em oito milhões e meio de uvas brancas e tinta”. Estamos a falar de perto de um milhão de uvas tintas e mais de sete milhões uvas brancas, que resultarão de perto de sete milhões de garrafas”, apontou.

Desde o início do mês que um entra e sai de tratores, carregados das uvas mais caras do país, marca o quotidiano da vida da adega, que além das instalações em Monção, tem um polo em Melgaço, para receber o fruto e transformá-lo em vinho.

Aos 31 trabalhadores fixos da adega, juntam-se neste período mais 25 temporários, distribuídos por Monção e Melgaço. Durante as vindimas, almoçam e jantam na adega “para não parar a laboração”.

Depois das vindimas, a adega “também vive períodos de muito trabalho, com o engarrafamento do vinho, feito em dois turnos, o que obriga, em certas alturas, ao recurso a trabalhadores temporários”.

Nos últimos dias, os funcionários estiveram centrados na receção das uvas.

“Mal a uva chega, tem uma análise o visual e uma análise técnica, que deteta o teor provável de álcool, ou seja, o açúcar que as uvas têm, neste momento. Com base nisso, é-lhe atribuído uma etiqueta com o código de barras para afetar o pegão de descarga em função do álcool teórico que têm as uvas. Assim se separaram as uvas melhor das de pior qualidade para termos os melhores vinhos no final da colheita”, explicou Armando Fontainhas.

Segundo o diretor da adega de Monção, a uva da casta Alvarinho “é mais cara do país [Portugal Continental], excetuando a uva dos biscoitos, na ilha do Pico, nos Açores”.

Em novembro, em assembleia-geral da adega será fixado o preço da uva da colheita 2022.

“Primeiro vamos ver a quantidade de uva que entrou e os litros de vinho que produzimos. Com base nisso, vamos determinar o preço das uvas para os nossos cooperantes e, no final, a repartição de resultados por todos os sócios da adega”, especificou.

Segundo Armando Fontainhas, em 2021 “a uva da casta de Alvarinho foi paga a um euro” o quilo, sendo que posteriormente, a adega “distribuí 0,20 cêntimos de bónus, ou seja, na prática [a uva da casta Alvarinho] foi paga a 1,20 euros [o quilo], o que a torna a mais cara do país”.

O vinho tinto da colheita 2022, vai chegar ao mercado “antes do Natal”, o ‘brett’ de branco, como o Muralhas e outras marcas da adega, em janeiro e, em março, serão lançados todos os Alvarinhos, por ser um vinho que “precisa de mais estágio”, antes de ser consumido.

Em 2021, a adega de Monção faturou 16,2 milhões de euros, estimando com a colheita deste ano alcançar, ou mesmo ultrapassar, aquele valor, “face ao crescimento de vendas”.

A adega de Monção foi fundada a 11 de outubro de 1958, por iniciativa de 25 viticultores e produz, entre outros vinhos, as marcas “Alvarinho Deu La Deu”, “Muralhas” ou “Adega de Monção”.

Armando Fontainhas faz parte da direção da instituição desde 2001. Desempenhou as funções de vice-presidente durante 13 anos e, nos últimos nove anos, assumiu a presidência.

Segundo dados da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), a sub-região de Monção e Melgaço tem uma área total de 45 mil hectares, 1.730 dos quais cultivados com vinha, sendo que a casta Alvarinho ocupa cerca de 1.340 hectares.

A sub-região tem no mercado 253 marcas de verde, produzidas por 2.085 viticultores e 67 engarrafadores.

Desde 2015, a produção de Alvarinho foi alargada a outras zonas do país, fora dos dois concelhos do Alto Minho, em resultado de acordo alcançado pelo Grupo de Trabalho do Alvarinho (GTA), constituído pelo anterior Governo PSD/CDS e liderado pela CVRVV, defensora do alargamento da produção daquele vinho aos 47 municípios que a integram.