Em dia de inflação recorde, o barómetro da DECO PROTESTE revela que já no ano passado 71% das famílias sentiam dificuldades em pagar as contas. Segundo o documento, hoje divulgado, este valor significa um aumento face à situação registada em 2020 (69% de famílias com dificuldades).
As famílias monoparentais (86%) e as famílias numerosas (76%) são as que mais dificuldades enfrentam. Em relação a 2020, a proporção de famílias monoparentais em apuros aumentou 4%. Uma em cada dez desta vive em situação de pobreza extrema. Apenas 29% dos agregados situam-se no campo “conforto financeiro”, mostrando facilidade em pagar as suas contas, um valor inferior a 2020 (31%).
A covid-19 é um dos fatores apontados para a situação, mas mesmo entre as famílias não afetadas financeiramente pela pandemia, 58% reporta dificuldades em pagar as despesas do dia-a-dia. Entre as que registaram quebras de rendimento abaixo dos 25%, a fação em apuros dispara para 78%; entre as que sofreram cortes acima de 25%, a proporção cresce ainda mais, situando-se nos 89%. Neste último grupo, uma em cada dez famílias vive em situação de pobreza extrema, revela a organização.
"As despesas com atividades de lazer, habitação e saúde surgem no topo da lista de dificuldades, mas as contas referentes à mobilidade, habitação, saúde e alimentação destacam-se pelo aumento do grau de dificuldade face a 2020", indica em comunicado.
Rita Rodrigues, responsável pelas Relações Institucionais da DECO PROTESTE, citada no documento, afirma que “os resultados obtidos em 2021 são particularmente alarmantes tendo em conta a evolução dos últimos três anos. Se em 2019 77% das famílias portuguesas assinalavam as dificuldades económicas que sentiam, em 2020 esse valor diminuiu para 69%."
Segundo Rita Rodrigues, “esta situação pode ser explicada pelo contexto de pandemia que continuou a marcar a economia em 2021, pelos períodos de confinamento e pelas perdas parciais ou totais de rendimento consequentes.”
As maiores dificuldades surgem com as despesas de atividades de lazer (41%), habitação (40%), saúde (39%%), mobilidade (39%) e alimentação (29%). Olhando para os números de 2020, o barómetro da DECO PROTESTE mostra que a dificuldade em enfrentar as despesas com mobilidade sofreu o maior aumento (7,2 pontos percentuais), seguindo-se as despesas com a habitação (4 pontos percentuais), a alimentação (3,4 pontos percentuais) e a saúde (1,6 pontos percentuais).
Em termos geográficos, a região do Alentejo surge no topo da lista de dificuldades económicas (72% das famílias), seguida de perto pelos Açores (71%) e Lisboa e Vale do Tejo (71%). No entanto, é na Madeira que se encontra a maior proporção de famílias em situação financeira crítica, ou seja, pobreza extrema: 9,5%.
Quanto a distritos, os agregados de Évora (79%), Castelo Branco (78%) e Leiria (78%) foram os que revelaram maiores constrangimentos na gestão orçamental em 2021. Leiria regista a maior queda face 2020, onde era um dos distritos que apresentava menor sufoco financeiro.
Para a organização, "as fases de emergência e contingência nacional, provocadas pela COVID-19, originaram situações vulneráveis para os consumidores portugueses: 45% das famílias viu os seus rendimentos diminuírem por causa da crise pandémica. Num quarto destes casos houve perda de emprego e num terço a interrupção da atividade profissional. No total, 23% das famílias portuguesas revelaram ter sofrido uma quebra de rendimentos superior a 25%, face a 2020".
"Dos países que participaram no estudo, Portugal é o que mais registou perda de rendimentos por causa da pandemia (45% das famílias afetadas). Em Espanha este valor é de 38%, em Itália 33% e na Bélgica 24%", adianta ainda.
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