Antecipando a obrigatoriedade de implementação de recolha seletiva de têxteis em 2025, o município de Sintra – através de uma parceria entre os Serviços Municipalizados de Água e Saneamento (SMAS) e a To Be Green, ‘spin-off’ da Universidade do Minho, onde nasceu o projeto de valorização e reciclagem de têxteis e máscaras – alargou o processo a todo o concelho.
A expansão decorreu depois de uma experiência piloto em 2021 em quatro freguesias e uniões de freguesias, em que houve “muita aceitação do projeto”, explicou à Lusa o diretor dos SMAS, Carlos Vieira.
“Andamos sempre à procura de novas soluções que nos permitam, essencialmente, aumentar a recolha seletiva e diminuir o indiferenciado”, referiu, justificando a parceria com a To Be Green e salientando também que a “imagem de marca” da sua atuação no concelho, no distrito de Lisboa, “passa pela antecipação” à obrigatoriedade da legislação.
De acordo com Carlos Vieira, o concelho antecipou “muito mais cedo” as metas de recolha dos biorresíduos, que se tornou obrigatória em 01 de janeiro deste ano, e também o quis fazer no caso dos têxteis “para ir adaptando soluções ao que é necessário”.
“Ainda falta sair alguma regulamentação relativamente à questão dos têxteis, mas o objetivo é irmos tentando fazer projetos que permitam ir retirando os têxteis do [lixo] indiferenciado e, assim, anteciparmos essas metas e conseguirmos estar preparados quando chegar a data”, sublinhou.
António Dinis Marques, mentor científico e CEO (diretor executivo) da To Be Green, define o projeto como “uma solução completa de valorização de têxteis, em particular vestuário em fim de vida, em que o descarte não é considerado um resíduo, mas um potencial resíduo de valorização para transformar em outros”.
Primeiro, a roupa é entregue num contentor, colocado em escolas ou nas juntas de freguesia, e é depois selecionada no centro de recolha localizado no Parque Empresarial de Ouressa, Mem Martins.
A que está em condições de ser usada é fotografada e inserida na aplicação To Be Green, onde pode ser trocada por pontos (para adquirir outras peças nesta plataforma, como numa loja), ou é entregue no Banco de Recursos municipal ou a uma instituição particular de solidariedade social.
Caso as peças apresentem danos são encaminhadas para reciclagem e transformadas em novas fibras têxteis (tecidos), o que acontece no norte do país, depois de triadas em “lotes das cinco grandes cores e gangas”.
De acordo com António Dinis Marques, o projeto, que se encontra também noutros municípios do país, sobretudo da região Norte, já tirou do aterro, no total do território abrangido, entre “50 e 70 toneladas, aproximadamente”. Em Sintra o projeto “ainda está numa fase de arranque, de segundo ano propriamente dito, entrando agora na fase de escalar e divulgar, depois do projeto-piloto”.
O mentor destacou a importância de chegar aos mais jovens e, para tal, são realizadas ações de sensibilização nas escolas para dar a conhecer o projeto, como aconteceu na Secundária Miguel Torga, em Queluz.
“Queremos chegar muito aos jovens, às gerações que estão mais engajadas, mais ligadas à questão da sustentabilidade, porque são esses públicos que ainda são muito consumidores, sendo algumas faixas etárias com o consumo de produtos de moda muito, muito elevado. Começa por aí”, explicou António Dinis Marques, salientando a necessidade de “se comprar menos, mas comprar com mais qualidade, porque permite uma maior extensão de vida”.
Eliane, de 16 anos, assistiu à ação de formação e considerou-a importante, sobretudo porque reconheceu “que as pessoas costumam comprar muitas roupas e, muitas vezes, não é necessário”. Aprendeu que “é sempre bom reciclar em vez de estar a deixar por aí”.
À semelhança da sua colega Evelyn, igualmente de 16 anos, vai aproveitar a oportunidade de instalar a aplicação no telemóvel para trocar a roupa que diz ter em casa e que não usa.
“Aprendi que podemos dar uma nova vida às roupas que não utilizamos mais ou que não nos serve e também que há várias possibilidades de transformar umas calças, uma bolsa ou uma bata, algumas coisas assim”, disse a jovem, que considerou esta uma “boa forma de reduzir vários danos, como amontoados de roupa no lixo”.
Para Sandra Oliveira, professora e coordenadora do projeto Eco Escolas, a aula diferente “vai deixar sementes” nos jovens e um “alerta para a problemática dos têxteis”.
“Não sei muito bem se eles têm a noção de que o comprar excessivamente, o consumo excessivo, depois resulta em lixo excessivo e, portanto, pelo menos ficaram em alerta, [sabendo] que existem outras soluções para além do lixo indiferenciado para os têxteis”, sublinhou.
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