Jerónimo de Sousa escolheu um encontro em Pinhal Novo, Palmela, distrito de Setúbal, para justificar a abstenção na votação na generalidade do Orçamento, anunciada na sexta-feira, reconhecer que o Governo fez "algumas aproximações, muito parcelares e limitadas" e concluiu que o documento "não responde, de facto, às exigências do país".
"A abstenção que anunciámos nesta fase da discussão permite, apenas e só, passar a outra fase da discussão", afirmou aos militantes reunidos numa sala dos bombeiros de Pinhal Novo, num encontro de preparação do congresso nacional do PCP, em novembro.
Tal como o líder parlamentar, João Oliveira, já tinha dito na sexta-feira, Jerónimo insistiu que "o sentido de voto final" vai depender da "avaliação da versão final do orçamento" face à "resposta global" dos problemas do país, agravados com a crise causada pela pandemia de covid-19.
O secretário-geral dos comunistas reconheceu que o executivo se “aproximou parcialmente” de algumas das propostas do partido, como a antecipação de agosto para janeiro do aumento único de 10 euros para as pensões até aos 658 euros, ou ponderar o subsídio de penosidade e risco para os trabalhadores das autarquias e a nova prestação social extraordinária.
Compromissos que, alertou, “estão muito longe de dar garantias” de o orçamento dar “a resposta que o país precisa”.
Antes, o líder dos comunistas gastou alguns minutos e vários parágrafos do discurso a recordar “soluções indispensáveis” feitas nos últimas semanas e meses pelo partido, como o aumento dos salários, incluindo o salário mínimo nacional, a “valorização das carreiras e profissões” ou ainda a “revogação das normas gravosas da legislação laboral”.
São, disse, “soluções indispensáveis que o PCP tem defendido, soluções que contrastam com as limitações da proposta de orçamento, mas que não deixarão de estar presentes no debate na especialidade”.
E criticou a opção de o executivo de António Costa “dar prioridade à redução do défice” para o próximo e até já em 2020, o que “nega ao país cerca de 6.000 milhões de euros” para resolver problemas.
Apenas três horas antes, em Lisboa, o primeiro-ministro, António Costa, já tinha considerado um “excelente indicador” o PCP ter anunciado a abstenção, resultado de um entendimento “para ter um bom orçamento para o próximo ano”.
A votação na especialidade do Orçamento do Estado de 2021 está agendada para quarta-feira, na Assembleia da República, e, se for aprovado, segue-se um período de especialidade, ao pormenor, antes da votação final global, prevista para 26 de novembro.
O Governo do PS está a negociar com os partidos de esquerda - Bloco de Esquerda, PCP, Partido Ecologista "os Verdes" (PEV) e o partido Pessoas-Animais Natureza (PAN), mas não há ainda garantias públicas de que venha a ser aprovado.
O PCP foi o primeiro partido de esquerda a anunciar a sua posição sobre o Orçamento do Estado do próximo ano.
O Bloco de Esquerda vai fazê-lo no domingo. Os Verdes anunciam a sua posição na segunda-feira e o PAN também o deverá fazer no início da semana, embora António Costa tenha admitido que possa ser anunciado “entre hoje e amanhã [domingo]”.
(Notícia atualizada às 17h02)
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