Macedo na CGD. Depois da especulação, a confirmação. "O Governo decidiu convidar o Dr. Paulo Macedo para CEO da Caixa Geral de Depósitos (CGD), tendo o convite sido aceite", afirmou o Ministério das Finanças em comunicado, esta sexta-feira, acrescentando que "para Chairman da CGD foi convidado o Dr. Emílio Rui Vilar, convite esse que também foi aceite". É é assim que Macedo volta ao serviço público, pouco mais de um ano depois de deixar a pasta da Saúde.
A convite de Passos Coelho, líder do XIX Governo Constitucional, Macedo assumiu entre 2011 e 2015 a pasta da Saúde. O então ministro trocou a administração do BCP pelos corredores da Assembleia da República e, ocasionalmente, dos hospitais que visitou. Quatro anos de austeridade, de troika, de decisões difíceis. Finda a missão, disse sair com sentimento de “missão cumprida”.
“Agora, vou regressar ao setor privado, onde também se serve bem o país”, disse em entrevista à Renascença na tomada de posse do Governo saído das legislativas de 4 de outubro, mas cujo Executivo empossado, liderado por Passos Coelho, não chegou a exercer funções.
Em setembro deste ano ficou a saber-se que Macedo era o novo administrador da seguradora Ocidental Vida, detida em 49% pelo BCP, banco onde também exerceu funções administrativas. Um regresso a “casa”.
BCP, o “lugar seguro” de Macedo
A ligação de Macedo ao BCP recua a 1993, onde desempenhou vários cargos de direção até 1998. Desde a direção da unidade de marketing estratégico, passando pela secção comercial de cartões de crédito, pela rede de comércios e empresários e pelo gabinete do euro no centro corporativo. Entre 1998 e 2000 foi administrador da Comercial Leasing, seguindo-se o Interbanco (2000 a 2001) e a Médis (2001 a 2004).
Em 2004 aceitou o convite de Manuela Ferreira Leite, então ministra das Finanças de Durão Barroso, para Diretor Geral de Impostos, cargo que desempenhou até 2007. Nos últimos meses de mandato viu o seu nome envolvido em polémica por causa da remuneração que auferia, isto depois de aprovado o Estatuto de Pessoal Dirigente da Função Pública, que impedia a existência de salários superiores ao do primeiro-ministro.
Finda a comissão de serviço de três anos regressou ao BCP. Entre 2008 e 2011, foi vice-presidente do Conselho de Administração do banco, tendo assumido também o cargo de vice-presidente não executivo de várias empresas do grupo. Neste período foi igualmente membro do Conselho de Supervisão do Bank Millennium (Polónia) e do Conselho de Supervisão da Euronext.
Nascido em Lisboa a 1963, licenciou-se em Organização e Gestão de Empresas no Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa (ISEG), em 1986. Iniciou a sua atividade profissional na Arthur Andersen (antes de esta se ter fundido com a Deloitte). Aqui ficou até 1993, ano em que integra o BCP.
Paralelamente, entre 1986 e 1999 deu aulas no Instituto Superior de Economia e Gestão, no MBA da AESE, nas Pós-Graduações em Fiscalidade (Instituto de Estudos Superiores Financeiros e Fiscais), em Gestão Fiscal e em Gestão de Bancos e Seguradoras (Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa).
De referir ainda, no seu vasto currículo, que de 1994 a 1996 integrou a Comissão para o Desenvolvimento da Reforma Fiscal e, em 1997, o Grupo de Trabalho para a Reavaliação dos Benefícios Fiscais.
Rumo à Caixa
Em março deste ano já o nome de Macedo era avançado para substituir José de Matos na liderança do banco público. Fonte do Governo dizia então que o gestor e ex-ministro da Saúde tinha “o perfil desejado”. No entanto, o convite foi feito a António Domingues, que aceitou, tornando-se no 23.º presidente da administração da CGD.
O banqueiro assumiu a presidência do Conselho de Administração do banco público no dia 31 de agosto. Sai a 31 de dezembro, outros seis administradores seguiram o seu exemplo.
A marcar o curto mandato esteve sobretudo a polémica recusa de Domingues e da sua equipa em entregar as declarações de património e de rendimentos ao Tribunal Constitucional (TC). Os novos gestores alegavam que lhes tinha sido garantida pelo executivo uma exceção no Estatuto do Gestor Público que evitava que tivessem de entregar esses documentos, que ficam disponíveis para consulta pública.
Mas este não foi o único percalço desta equipa. Antes, o BCE reprovou oito dos nomes propostos pelo Governo para o Conselho de Administração da CGD por excederem o limite de cargos em órgãos sociais de outras sociedades; e as críticas subiram de tom após reveladas por Mário Centeno, no Parlamento, as remunerações dos novos gestores.
Contas feitas, Domingues sai da Caixa antes de o Governo avançar, em 2017, com a injeção de 2,7 mil milhões de euros no banco público. No total, o aumento de capital da CGD será superior a cinco mil milhões de euros.
É o processo de reestruturação e recapitalização do banco estatal que Macedo tem pela frente. Resta saber quem o irá acompanhar, além de Emílio Rui Vilar, nesta jornada. Agora, o Governo está "a trabalhar na definição da composição do restante Conselho de Administração. O processo de nomeação do novo Conselho de Administração da CGD segue assim o seu curso normal", conclui a nota do Ministério das Finanças que confirmou Macedo na liderança do banco público.
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