Sob o tema "criar um futuro partilhado num mundo fraturado", durante quatro dias a estância de esqui suíça acolhe o Fórum Económico Mundial (FEM), evento que junta a elite da finança mundial, mas não só. Aos principais líderes empresariais e políticos, intelectuais e jornalistas, juntam-se todos os anos algumas celebridades — a atriz Cate Blanchett e os músicos Elton John e will.i.am são as estrelas deste ano. Edição em que, pela primeira vez em 48 edições do Fórum, criado na década de 1970, todas as co-presidentes são mulheres.

Em 2013, havia apenas uma mulher entre os seis co-presidentes. Sinais de mudança sentiram-se 2017, edição em que o número de mulheres co-presidentes era superior ao de homens – 3 para 2.

Da ciência à banca; da Noruega à Índia, a escolha recaiu em sete mulheres cuja missão será a de conduzir o encontro mundial. São o rosto de carreiras bem-sucedidas e de liderança. São elas: a primeira-ministra da Noruega, Erna Solberg, a diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, a secretária-geral da Confederação Internacional de Sindicatos, Sharn Burrow, a física italiana Fabiola Gianotti, diretora-geral da Organização Europeia para a Análise Nuclear, Isabelle Kocher, conselheira delegada da empresa energética francesa ENGIE, Ginni Rometty, presidente executiva da IBM, e a indiana Chetna Sinha, presidente do banco de microcrédito Mann Deshi.

A comunicação da escolha, em novembro do ano passado, não chegou com grande alarido, tendo o Fórum Económico Mundial anunciado apenas os nomes e os cargos de quem, nos próximos dias, terá a responsabilidade de presidir às sessões, definir o programa a ser debatido e guiar os painéis e discussões.

De acordo com o FEM, as sete co-presidentes asseguram uma abordagem multilateral e representam tanto o setor público como o privado, organizações internacionais, sindicatos, meios académicos e científicos bem como a sociedade civil e o empreendedorismo social.

Para além disso, o programa da 48.ª edição do Fórum irá explorar as causas e soluções pragmáticas para as múltiplas fraturas políticas, económicas e sociais que a sociedade global enfrenta hoje em dia.

 Quem são as sete mulheres escolhidas, "as primeiras a ocupar o cargo de..."

O seu perfil tem uma coisa em comum, foram "as primeiras". Saiba mais sobre as sete co-presidentes.

Faltam mulheres em Davos?

A notícia de que serão sete as co-presidentes merece destaque pela positiva, mas nem sempre foi assim e as críticas multiplicaram-se ao longo dos últimos anos no que à paridade diz respeito. Não é por isso estranho o termo “Davos Men” (Homens de Davos), atribuída ao cientista político Samuel P. Huntington, em 2004. Um petit nom com carga negativa, que é utilizado para aludir à participação de uma elite masculina no evento.

Em 2015, no ano em que atriz Emma Watson foi a Davos defender a igualdade de género, apenas 17% dos participantes eram mulheres (número que subiu um ponto percentual no ano seguinte). E este ano, onde a liderança é feminina, qual é a percentagem? A maior de sempre: 21% dos 3000 participantes são mulheres (mais 1% que em 2017).

O reduzido número de mulheres em painéis de relevo foi sempre outro dos pontos commumente referidos. Porém, e de acordo com o The Guardian, no ano passado 90% das sessões incluíram, pelo menos, uma oradora.

Em 2012, um texto da mesma publicação questionava “Davos: se as mulheres são o futuro, onde é que estão?”. O artigo é publicado um ano depois de o FEM impor um sistema de quotas que visava incrementar a participação feminina.

O acesso a Davos dá-se sobretudo por convite (chefes de Estado, jornalistas, celebridades e líderes da sociedade civil enquadram-se nesta regra). Já os chamados “strategic partners” (parceiros estratégicos), 100 empresas atualmente, pagam anualmente uma quantia que pode ir até aos 600.000 francos suíços (509.000 euros) para ter lugar nos encontros. Neste caso, o FEM decretou que por cada quatro homens, deve ir uma mulher na comitiva.

As regras visam também os “mais novos”. Os Young Global Leaders e Global Shapers, participantes de programas para líderes com menos de 40 anos, cerca de 200 por edição, devem assegurar que cinquenta por cento dos seus delegados são mulheres.

Davos é reflexo de um problema estrutural. Num relatório anual divulgado em novembro, o Fórum revela que serão necessários 217 anos até se acabar com as disparidades salariais e de acesso ao emprego que continuam a marginalizar as mulheres. Ainda assim, no documento de 2017, foi a primeira vez que a organização destacou "progressos lentos ainda que estáveis" na rota pela igualdade de género.