Isso mesmo recordou Jorge Pereira, presidente da direção da cooperativa "Leite da Montanha" (antiga LactoPico), durante a cerimónia de inauguração das novas instalações, no lugar da Silveira, Lajes do Pico, que no seu entender, vão permitir garantir sustentabilidade na produção e produzir produtos de qualidade.

"Hoje, temos uma das fábricas mais versáteis dos Açores, que nos permite produzir diversos tipos de queijo, barra, bola, prato, ilha, com diversos tamanhos e pesos", explicou o administrador da maior unidade fabril de lacticínios do Pico, recordando, porém, que quando entrou para a direção, a situação era insustentável.

Jorge Pereira lembrou que o setor leiteiro passou por várias crises, desde o encerramento da Martins e Rebello, passando pela parceria falhada entre a LactoPico e a Oliveira de Azeméis, que afastou mais de metade dos cerca de 300 produtores de leite que existiam na ilha.

"Os pouco mais de 60 produtores que ainda resistiam, encontravam-se em situação de desespero, com cerca de 10 meses de leite por receber - no valor de um milhão de euros - a cooperativa não tinha credibilidade perante nenhum fornecedor, e na banca havia três milhões de euros para pagar", lembrou o administrador, acrescentando que, apesar do "inferno" que viveu, conseguiu avançar com um processo especial de revitalização e escapar à insolvência "por uma unha negra".

Segundo o dirigente, a situação financeira da cooperativa "Leite da Montanha" melhorou substancialmente, depois de assegurada a parceria com o Governo dos Açores, a LactAçores e a Caixa de Crédito Agrícola, que permitiu pagar a quase a totalidade das antigas dívidas aos produtores e repor o pagamento a fornecedores, trabalhadores e produtores, a 60 dias.

Para Jorge Pereira, o desafio que se segue, passa pela valorização do produto, e pelo aumento do preço do leite pago ao produtor, que subiu dois cêntimos por litro a partir de 1 de outubro, mas que, na sua opinião, ainda continua "muito abaixo do preço médio" nos Açores.

"Por isso, lanço o repto ao senhor secretário regional e ao senhor presidente do Governo, para que a medida do POSEI, destinada ao pagamento de produtos láteos, seja revista", sublinhou o administrador da Leite da Montanha, defendendo que em vez do valor dos subsídios ser igual para todos os produtores da região, passe a ser distribuído tendo em conta os custos de produção nas ilhas mais pequenas.

Sem responder diretamente ao repto lançado por Jorge Pereira, o presidente do Governo dos Açores, Vasco Cordeiro, também sublinhou a necessidade de se investir agora na "valorização do produto" da nova fábrica da cooperativa de lacticínios do Pico.

O chefe do executivo fez questão de lembrar, no entanto, que o setor viveu muitas "lutas, desafios e contrariedades", mas que apesar disso, soube ultrapassá-las, com a ajuda do executivo açoriano, culminando agora com a inauguração das remodeladas instalações da Leite da Montanha.

"O pior erro que podia ser cometido nesta circunstância era, da parte de todos os envolvidos (Governo, produtores e indústria), julgar que está resolvida a situação do setor leiteiro na ilha do Pico. Isso seria um erro dramático", alertou Vasco Cordeiro, lembrando que existem ainda "muitos e grandes desafios" pela frente.

No seu entender, é necessário agora aumentar a produção de leite no Pico, de forma a garantir a viabilidade da produção, e investir também na "valorização" do produto final.