Costa Silva falava Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, durante a sessão de balanço da consulta pública da "Visão Estratégica para o Plano de Recuperação 2020/2030", documento feito a pedido do Governo, com as prioridades para a saída da crise.
"Todos os nossos problemas e constrangimentos vêm ao de cima nesta crise: as empresas descapitalizadas, a dívida pública muito elevada que por si só é inibidora do crescimento, as limitações da nossa estrutura produtiva, o declínio do investimeto, a baixa produtividade e portanto é muito importante enfrentar a crise em todas essas perspetivas e ter em atenção que a recuperação vai ser lenta", defendeu o professor universitário.
"Nós vamos entrar ainda em decrescimento antes de haver crescimento, vamos piorar antes de começar a melhorar", sublinhou Costa Silva defendendo que o país precisa de usar "todos os seu trunfos", para preservar a sua capacidade produtiva.
"Não vamos ter ilusões, nós vamos ter empresas que não vão aguentar no decurso desta pandemia", reforçou o gestor.
Segundo disse, a crise pandémica "está na ponta do icebergue", mas em baixo está a crise ambiental e climática "gravíssima".
O documento inicial, designado “Visão Estratégica para o Plano de Recuperação 2020/2030”, foi apresentado no dia 21 de julho e esteve em consulta pública no mês de agosto, recebendo 1.153 propostas de contributo, considerando Costa Silva que esta foi "uma contribuição extraordinária".
Os 1.153 contributos, de cidadãos e instituições, levaram à adenda do plano inicial em alguns temas, como a eficiência energética ou turismo.
Com base nas contribuições que a Visão Estratégica recebeu, foram feitas adendas ao documento inicial no "Cluster da petroquímica, química industrial e refinação", na "Eficiência energética", na “Mineração do mar profundo”, no "Comércio e serviços", "Turismo" e nas "Centrais de biomassa".
"É escusado pensarmos agarrados a muitos dos paradigmas e a ideias feitas do passado, e todos ouvimos neste país as campanhas pelo Estado mínimo, pelo desmantelamento dos serviços públicos, pela privatização cega dos serviços públicos, e ainda bem que esse modelo não vingou", sublinhou o professor universitário.
"Quando há uma epidemia como esta, não é o mercado que nos vai salvar, é o Estado, os serviços públicos é o Serviço Nacional de Saúde, e eu espero que haja a humildade de assumir esta derrota histórica que a realidade impôs a ideias ultraliberais", defendeu Costa Silva.
Para o gestor, este é um debate que vai ser travado agora, sublinhando que "a esmagadora maioria do povo português percebe" a importância dos serviços públicos e o investimento que é preciso fazer "em toda a galáxia" dos serviços do Estado.
A Administração Pública foi, aliás, uma das áreas que recebeu mais contributos durante o período de discussão pública do plano de Costa Silva que decorreu em agosto.
"Nós temos uma Administração Pública muito orientada para a emissão de pareceres e pouco orientada para a resolução dos problemas, temos de mudar essa cultura", defendeu Costa Silva.
"Consenso alargado" sobre alta velocidade Lisboa-Porto
"No caso das infraestruturas físicas, há um consenso muito alargado sobre a necessidade de o país fazer as infraestruturas de que necessita, nomeadamente a rede elétrica ferroviária nacional, a aposta na linha de alta velocidade Lisboa-Porto", sublinhou Costa Silva.
O professor universitário lembrou que no plano inicial apresentado em julho defendia que o projeto de alta velocidade devia ser feito em duas fases, numa primeira fase Porto - Soure, mas depois de ter analisado os contributos que foram entregues durante a discussão pública sublinha que deve ser analisado o benefício de ser feito "de uma vez só".
"Os contributos públicos chamaram a atenção para a necessidade de se fazer uma análise custo-benefício que veja se fazer de uma vez só não tem mais rentabilidade e não é mais benéfico", afirmou.
Costa Silva voltou ainda a defender a aposta na "conectividade ibérica" e disse que se o país adotar agora a "bitola europeia", isso implicará "um investimento colossal, quase inquantificável".
Segundo o executivo socialista, com a conclusão da “Visão Estratégica”, o Governo aprova já na quinta-feira, em Conselho de Ministros, a primeira versão do Plano de Recuperação e Resiliência, instrumento do Governo que já terá tradução na proposta de Orçamento do Estado para 2021, que será entregue em 12 de outubro na Assembleia da República.
Ainda em termos de calendário político, o primeiro-ministro vai reunir-se com os partidos e com os parceiros sociais nos próximos dias 21 e 22 sobre o Plano de Resiliência e o Quadro Financeira Plurianual 2021/2027.
Depois, também na sequência de uma sua iniciativa política, António Costa discutirá o futuro Plano de Recuperação e Resiliência no dia 23 deste mês na Assembleia da República, durante um debate temático. O Programa de Recuperação e Resiliência será em seguida apresentado publicamente em 14 de outubro, na véspera de o documento ser entregue à Comissão Europeia.
[Notícia atualizada às 12h54]
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