"Nós não tivemos outra alternativa senão fazer a revisão em alta tendo em conta o que aconteceu nos setores do alojamento, restauração e transportes, que tiveram um crescimento surpreendente. E a exportação de divisas também reflete isso", anunciou o governador do Banco de Cabo Verde, Óscar Santos, ao apresentar, na Praia, o relatório de política monetária do banco central, de outubro.
De acordo com o governador, "face aos desenvolvimentos macrofinanceiros e indicadores", a instituição prevê agora para 2022 "a continuidade do processo de recuperação da atividade económica", traduzido num crescimento do PIB -- toda a riqueza produzida no país -- de 8%.
"No entanto, para 2023, as perspetivas macroeconómicas são menos favoráveis, devido aos efeitos do conflito e tensões geopolíticas na erosão do poder de compra decorrente da alta inflação, bem como à incerteza e perda de confiança dos agentes económicos, aliados ao aperto nas condições de financiamento nos principais mercados internacionais. Assim, prevê-se uma moderação do crescimento em torno dos 5%, estimando-se no entretanto que o PIB em valor retorne ao nível pré-pandémico até finais de 2022", anunciou ainda.
Óscar Santos acrescentou que a taxa média anual da inflação deverá situar-se em Cabo Verde nos 8% em 2022, "refletindo os elevados preços das matérias-primas energéticas e não energéticas e a sua transmissão aos preços internos, não obstante as perspetivas de um bom ano agrícola" no país.
"Espera-se uma redução da inflação para patamares em torno dos 4,2% [em 2023], espelhando o pressuposto de decréscimo dos preços das matérias-primas em consonância com a evolução dos preços futuros, na ausência de choques adicionais, com a procura global mais contida e o abrandamento das restrições na oferta e das pressões sobre os custos de produção", sublinhou.
O arquipélago enfrenta uma profunda crise económica e financeira, decorrente da forte quebra na procura turística - setor que garante 25% do PIB - desde março de 2020, devido à pandemia de covid-19.
Em 2020, registou uma recessão económica histórica, equivalente a 14,8% do PIB, seguindo-se um crescimento de 7% em 2021 impulsiona pela retoma da procura turística. Para 2022, devido às consequências económicas da guerra na Ucrânia, nomeadamente a escalada de preços, o Governo cabo-verdiano baixou em junho a previsão de crescimento de 6% para 4%.
Já em abril, acautelando as consequências da guerra e das sanções internacionais à Rússia, o BCV tinha baixado a previsão de crescimento económico este ano para 3,5% do PIB.
A "dinâmica muito forte no setor de serviços e fundamentalmente as exportações de serviços ligados ao turismo" e a "retoma do crescimento do produto ao seu potencial pré-pandémico" são os argumentos apontados pelo governador para esta revisão.
"A nossa conta corrente [externa] também, que tinha um défice à volta de 17%, reduziu para 2% do PIB, portanto, um desempenho extraordinário. Portanto, essa é uma conjuntura favorável que Cabo Verde está a viver tanto e são os dados que indicam isso. Felizmente, é uma boa notícia para todos nós. A inflação, agora, pouca coisa podemos fazer, porque a maior parte da inflação é importada", reconheceu Óscar Santos.
Apontou ainda que o investimento direto estrangeiro realizado no país no primeiro semestre de 2022 cresceu 11,9% face ao período homólogo, "associado a projetos de investimentos, sobretudo nos setores do turismo e imobiliária turística e nas ilhas de Santiago, Fogo e São Vicente".
"Em resultado destes desenvolvimentos, o 'stock' das reservas internacionais líquidas cifrou-se em 621 milhões de euros em junho de 2022, constituindo uma acumulação de reservas externas passível de cobrir 7,1 meses das importações de bens e serviços previstos para o ano", concluiu.
PVJ // LFS
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