"Antes da pandemia, o investimento de capital no petróleo e gás africanos devia chegar a 90 mil milhões de dólares [76,196 mil milhões de euros] neste e no próximo ano, mas com as empresas numa corrida para cortar custos e com adiamentos aos grandes projetos, esse número caiu para 60 mil milhões de dólares [50,797 mil milhões de euros]", disse NJ Ayuk na apresentação do relatório deste ano sobre as Perspetivas da Energia em África.

"A indústria está a debater-se com regimes fiscais mais restritivos, desafios crónicos de regulamentação, competição da indústria de xisto e uma transição para práticas de produção mais verdes, por isso a pandemia de covid-19 chegou num momento particularmente difícil", disse o presidente da entidade privada destinada a promover os investimentos energéticos em África.

Segundo NJ Ayuk, as atividades na área do petróleo e gás foram, sem dúvida, afetadas em 2020, "mas a perspetiva de evolução para os projetos, os regimes fiscais e os investimentos em África continuam otimistas".

"O potencial da energia em África é enorme e há oportunidades significativas para novos desenvolvimentos no setor", vincou.

O relatório da CEA, com o apoio da consultora Rystad Energy, passa em revista os principais acontecimentos dos últimos meses com especial destaque nos impactos da pandemia de covid-19 para o setor energético em África, e aponta também as reformas necessárias para o continente africano recuperar mais rapidamente e aproveitar o potencial destes recursos naturais.

"Está na altura de reformas fiscais ousadas", defende-se no relatório, apontando que "a maioria dos produtores africanos percebe os desafios colocados pelos seus atuais regimes fiscais no ambiente atual de preços e está envolvido em aprovar emendas adequadas", exemplificando com a nova legislação na Nigéria e em Angola, os dois maiores produtores da África subsaariana.

Ainda assim, acrescentam, "mudar os regimes fiscais implica novos desafios, causa incerteza, distorce a receita esperada para o Estado, e é difícil acordar em quais os parâmetros fiscais a adotar".

Apesar destas dificuldades, concluem, "para atrair capital para possíveis projetos no futuro, as nações africanas com recursos petrolíferos têm de adaptar os seus regimes fiscais a um novo modelo de mais oferta e menos procura, porque se não o fizerem isso pode levar a recursos perdidos e projetos perdidos".

A Câmara de Energia Africana, sedeada em Joanesburgo, é uma entidade privada destinada a fomentar os investimento em África, tendo hoje lançado o segundo relatório anual sobre as perspetivas de evolução deste setor no continente.

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.263.890 mortos em mais de 50,9 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em África, há 45.609 mortos confirmados em mais de 1,8 milhões de infetados em 55 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia no continente.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

MBA // LFS

Lusa/Fim