A nova incursão começou por volta das 08:00 (06:00 em Lisboa), quando homens armados encapuzados entraram na sede de Quissanga, distrito localizado no centro da província, a pouco mais de 100 quilómetros da capital de Cabo Delgado (Pemba).

"Fomos colhidos de surpresa. Os terroristas, num número elevado, entraram e começaram a pilhar bens nas barracas [estabelecimentos comerciais]", avançou à Lusa uma fonte da comunidade que abandonou a sede de Quissanga pouco depois do início do ataque.

Outros relatos de membros da comunidade dão conta de que o grupo terá obrigado crianças a carregarem os produtos pilhados, tendo-se apoderado de canoas de pescadores locais para abandonar o local.

"Levaram canoas e crianças para o transporte dos produtos pilhados e depois mandaram os menores voltarem para a comunidade", indicou à Lusa outro residente local.

Há relatos de famílias que abandonaram a zona devido ao ataque deste grupo, que se suspeita que tenha protagonizado uma outra incursão, na sexta-feira, em Mussomero, localizado a pouco mais de seis quilómetros de Quissanga.

"Passaram toda a noite em Mussomero", indicou à Lusa uma outra fonte local.

Após vários meses de relativa normalidade nos distritos afetados pela violência armada em Cabo Delgado, a província tem registado, há algumas semanas, novas movimentações e ataques de grupos rebeldes, que têm limitado a circulação para alguns pontos nas poucas estradas asfaltadas que dão acesso a vários distritos.

Dados oficiais indicam que a nova vaga de ataques em resultado das movimentações obrigou 67.321 pessoas a fugirem das suas terras de origem, incursões justificadas pelo executivo moçambicano como resultado da "movimentação de pequenos grupos de terroristas" que saíram dos seus quartéis em direção ao sul de Cabo Delgado, após um período de relativa estabilidade.

A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

A insurgência levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com o apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas surgiram novas vagas de ataques a sul da região.

O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4.000 mortes, segundo o Projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED, na sigla em inglês).

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