A conferência de imprensa em que Jerónimo de Sousa confirmou "de viva voz" que irá ser substituído como secretário-geral do PCP, por "iniciativa própria, depois de uma profunda reflexão" sobre as suas condições de saúde, durou cerca de uma hora.

Na sede do PCP, em Lisboa, Jerónimo de Sousa declarou-se "de consciência tranquila" após 18 anos à frente do partido: "Porque saio como entro, no plano económico, no plano financeiro, independentemente da atribuição desta ou daquela subvenção, que não é para mim, naturalmente".

O secretário-geral cessante do PCP defendeu que Paulo Raimundo, nome proposto ao Comité Central para o substituir, "é uma solução segura" para a liderança do partido, "um quadro que naturalmente vai ser testado e temperado em movimento, mas dá garantias de que este partido continuará como Partido Comunista Português".

A intervenção inicial que fez nesta conferência de imprensa foi sobre a preparação de uma Conferência Nacional do PCP para os dias 12 e 13 de novembro, com críticas à proposta de Orçamento do Estado para 2023 e à atuação do Governo do PS.

Jerónimo de Sousa acusou o executivo chefiado por António Costa de "total inércia" em relação à subida do custo de vida, e em particular à especulação de preços, de estar "cada vez mais inclinado à direita" mostrando a sua "natureza de classe" e de fazer um "corte nas pensões" ao não aplicar a fórmula legal para os aumentos em 2023.

Questionado sobre como recordará a chamada "Geringonça", entre 2015 e 2021, período em que o PS assumiu a governação e aprovou orçamentos com apoio parlamentar de PCP, Bloco de Esquerda e Partido Ecologista "Os Verdes", Jerónimo de Sousa respondeu que "é uma experiência que deve ser considerada desde raiz".

"A direita ficou em minoria na Assembleia da República. A direita foi demitida num entendimento que existiu -- foi ali, numa sala aqui ao lado -- em que nós considerámos que o PS só não fazia Governo se não quisesse", disse, referindo-se às legislativas de outubro 2015

Segundo Jerónimo de Sousa, nesse período de governação "avançou-se com coisas muito importantes" em termos de política de rendimentos e serviços públicos como os transportes, apesar de o PS estar "sempre muito contrariado e recuado" em relação às propostas do PCP.

Legislação laboral, salários e saúde foram matérias de divergência e as objeções do PS levaram ao voto contra a proposta de Orçamento do Estado para 2022, há um ano.

"Mas estivemos certos quando se tratou de afastar a direita do poder, estivemos certos nos passos adiante em matérias tão importantes", considerou.

No seu entender, o PS liderado por António Costa conseguiu "aquilo que sempre desejou, designadamente o processo de eleições antecipadas e a maioria absoluta".

"E agora, o que é que o PS faz com esta maioria absoluta? O que está a fazer não é brilhante. O que está a fazer merece uma profunda crítica e alerta dos portugueses neste quadro nacional e internacional. Veremos o futuro", concluiu.

O secretário-geral cessante do PCP ressalvou que "em relação ao PS e em relação ao António Costa não houve um problema de relacionamento institucional".

"As relações pessoais mantêm-se intocáveis, as relações políticas ficaram mais tensas", resumiu.

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