
"Foi alguém que deu ao seu consulado uma dimensão verdadeiramente universal, estando em todo o lado, aproximando inclusivamente credos religiosos antagónicos, ou pelo menos não coincidentes. A própria abertura que demonstrou desse ponto de vista é também um exemplo que pode ser replicado na ação política", afirmou.
Luís Montenegro falava à RTP à chegada a Roma, onde vai estar presente, no sábado, no funeral do Papa Francisco, juntamente com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco.
Sobre o Estado português estar representado ao mais alto nível, o primeiro-ministro considerou que "é um sinal de grande representação daquilo que é o sentido do povo português".
"O Presidente da República, o presidente da Assembleia da República e o primeiro-ministro, no fundo, são os três órgãos de soberania que representam a vontade política do povo português e o apreço que sentimos em Portugal por aquilo que significou o trabalho do Papa Francisco nestes últimos 12 anos e que são, como hoje aliás ficou bem patente também nos discursos da Assembleia da República, de todas as forças políticas, de todas as proveniências do pensamento político, inspiradores para aquilo que temos de fazer no combate às desigualdades, no apoio àqueles que são mais vulneráveis, mais pobres na sociedade, à construção de pontes entre pensamentos que nem sempre são coincidentes à partida mas podem ser à chegada, a valorização da condição humana sempre presente, nomeadamente para quem tem, como nós, funções de tratar aquilo que é de todos", salientou.
O primeiro-ministro referiu-se à sessão solene comemorativa do 25 de Abril e considerou que "todos eles tocaram à sua maneira, com a sua visão política, em pontos que na sociedade ainda corporizam desigualdades gritantes entre homens e mulheres, entre pessoas que têm dificuldades perante atos de violência, perante atos de subjugação, que não permitem exprimir tudo aquilo que é a sua condição humana".
Questionado se os apelos que o Papa fez ao longo dos 12 anos de pontificado foram escutados pelos líderes políticos, o chefe do Governo português considerou que "alguns foram, outros não foram".
"Ele próprio, dentro da estrutura que comandou, também instou muitas vezes algumas mudanças, alguns aperfeiçoamentos, que eles próprios não foram escutados ou, pelo menos, foram suscetíveis de ter alguma contestação ou alguma discussão interna", defendeu.
"Muitas vezes nós queremos fazer mais e não conseguimos, há algum desfasamento entre muitas das pretensões e decisões e depois a sua concretização da prática. Mas aquilo que é muito importante é darmos contributos positivos, e não há dúvida nenhuma que o Papa Francisco deu contributos muito positivos para sensibilizar o mundo para o respeito pela dignidade das pessoas, pela justiça social, pela abertura que demonstrou a temas que são importantes do ponto de vista internacional", afirmou.
O Papa Francisco morreu na segunda-feira aos 88 anos, após 12 anos de pontificado.
Nascido em Buenos Aires, a 17 de dezembro de 1936, Francisco foi o primeiro jesuíta e primeiro latino-americano a chegar à liderança da Igreja Católica.
A sua última aparição pública foi no domingo de Páscoa, no Vaticano.
O seu corpo está desde quarta-feira em câmara ardente, a ser velado por fiéis, na Basílica de São Pedro, no Vaticano.
O funeral está marcado para as 10:00 locais (9:00 de Lisboa) de sábado.
Portugal decretou três dias de luto nacional.
FM // TDI
Lusa/Fim
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