Netanyahu avisou que se a Hezbollah entrar na guerra “as consequências serão devastadoras”. Neste caso, provavelmente, o primeiro-ministro de Israel tem razão. Porque se a Hezbollah passar do atual toma lá dá cá em escaramuças com o exército de Israel para a fase de ataque contundente, isso significa que o Irão quer a guerra e toda a região vai ficar incendiada.
Os aiatolas de Teerão, com o guia supremo Ali Khamenei à cabeça, apesar do radicalismo fundamentalista da teocracia que impõem, são pragmáticos e muito calculistas quando se trata de agir fora das fonteiras do país. Não atuam de modo suicida.
A Hezbollah é um dos principais procuradores do regime iraniano para influenciar os bastidores no Médio Oriente. Atua conforme os interesses do Irão em modo que permite a Teerão argumentar que não se envolve no conflito.
Vimos na semana passada a imagem da articulação entre três desses procuradores do Irão perante a guerra de Gaza. Foi uma cena obviamente planeada para ser exibida em fotografia. Numa poltrona, estava sentado o líder da Hezbollah libanesa, Hassan Nasrallah. Diante dele, num sofá, dois dos líderes políticos do Hamas e da Jihad Islâmica. No centro da fotografia, na parede, a encimar este trio, as fotografias emolduradas do fundador da República Islâmica do Irão, aiatola Komeyni, e do atual guia supremo, aiatola Ali Khamenei.
A mensagem contida nesta fotografia deste encontro em Beirute é clara: quem manda é o poder religioso iraniano.
É relevante que no comunicado da Hezbollah que acompanha esta fotografia do encontro de dirigentes do “Eixo da Resistência” não haja referências à guerra de Gaza. Fica implícito que o Irão não deseja mais escalada, não deseja operações militares, não deseja propagar a guerra.
Mas, em Teerão, o guia supremo Ali Khamenei avisava no dia seguinte: “Se os crimes do regime sionista continuarem, os muçulmanos e as forças da resistência vão ficar impacientes e não vai ser possível detê-los”.
É legítimo pensar que a posição do Irão, portanto as instruções para a Hezbollah e os outros procuradores de Teerão, vai depender do que for a operação militar terrestre de Israel em Gaza. A ameaça de alastrar do incêndio bélico a toda a região permanece, embora seja evidente que o Irão não a deseja. Os EUA também não. Depende de Israel.
A entrada da Hezbollah em ação militar seria perigosa para Israel. A memória da guerra de 2006 no Líbano segue muito viva: então, Israel recuou, com 165 soldados mortos, ao 33.º dia de guerra.
Agora, é sabido que a Hezbollah está preparada para lançar um dilúvio de bombas sobre Israel e tem dezenas de milhar de combatentes, os que estão curtidos por combates na Síria e os reservistas treinados por oficiais iranianos.
O Líbano é um país em colapso económico com o Estado desmoronado. Mais de metade dos sete milhões de libaneses que residem no país vivem em grande pobreza.
A guerra civil que se prolongou por 15 anos, entre 1975 e 1990, deixou o Líbano em escombros. O país está por reconstruir e não há perspetiva de reconstrução.
Talvez possa ser evitado que o Líbano seja metido em mais uma guerra. Mas a atual incerteza e ameaça que se juntam ao desespero económico está a destroçar o ânimo de milhões de residentes neste heterogéneo Líbano onde a Hezbollah é força principal, dominante no sul do país, a região que tem 200 quilómetros de fronteira com Israel.
Se o Líbano for metido na guerra, o conflito passa a ter várias frentes, envolvendo toda a região.
É de crer que os EUA e o Irão estejam a manobrar, cada um no seu lado — e possivelmente em articulação nos bastidores — para que não haja propagação da guerra a toda a região.
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