Concordando com qualquer uma delas ou discordando, é indiferente, o espaço público encheu-se de comentários venenosos, daqueles atrozes que não queremos que nos atinjam. Tenho cá para mim que a justiça divina – seja em forma de divindade ou de karma, escolham a vossa receita – irá devolver a esta gente o mesmo nível de violência e hostilidade. Contudo, enquanto isso não acontece, proliferam as más-línguas e os chamados treinadores de bancada. 

A violência dos comentários é de tal ordem, que ultrapassa o mero insulto: muitos dos comentários são de índole sexual. E isto, senhores, só acontece às mulheres que têm uma vida com maior visibilidade, estão na praça pública e mostram serviço, detêm algum poder. Sobre as mulheres tudo se comenta, do vestido ao penteado, e tudo serve para diminuir as capacidades profissionais. 

Não faço ideia se Graça Freitas é uma pessoa com a qual os meus santos possam simpatizar, é-me, aliás, indiferente. Do que eu gostei foi ter alguém que deu a cara, num momento verdadeiramente único da vida do país e do mundo. Era um período original e é muito fácil, demasiado fácil, contabilizar contradições quando a Ciência não tinha respostas certas.

Graça Freitas foi a porta-voz da Direção Geral da Saúde, do que lhe era transmitido. Não gostámos de estar confinados? Claro que não. Ainda assim, temos de reconhecer que fizemos o mesmo que outros países, que tentámos todos fazer o nosso melhor. O mesmo é válido para Graça Freitas. Ou Marta Temido. Ou outras personalidades que já estiveram na esfera pública e que, sinceramente, devem respirar de alívio ao regressar à sua vida mais privada. Admiram-se que poucos queiram ir para a política e para cargos públicos? Admiram-se porquê?