São homens e rapazes que foram abusados sexualmente na infância, mas também são homens que foram vítimas de violência sexual na idade adulta — vários foram vítimas nos meses que antecederam o contacto com a Quebrar o Silêncio. São rapazes com 16 anos, jovens adultos na casa dos 20 e 30 anos, e homens com 50, 60 ou 70 anos.

Associações de apoio especializado à vítima de violência sexual:

Quebrar o Silêncio (apoio para homens e rapazes vítimas de abusos sexuais)
910 846 589
apoio@quebrarosilencio.pt

Associação de Mulheres Contra a Violência - AMCV
213 802 165
ca@amcv.org.pt

Emancipação, Igualdade e Recuperação - EIR UMAR
914 736 078
eir.centro@gmail.com

São homens que foram vítimas por outros homens, mas também por mulheres. O abusador pode ter sido o pai, mas também a mãe; o irmão, o primo ou o vizinho, mas também a irmã, a prima ou a vizinha. Quem abusa é, muitas vezes, alguém próximo, mas há também casos em que o abusador é um desconhecido cuja identidade permanece uma incógnita. Para a Quebrar o Silêncio, todos os casos têm igual importância. Todos os sobreviventes merecem o nosso apoio, independentemente das características da sua história de abuso sexual.

À Quebrar o Silêncio chegam homens heterossexuais, homossexuais, bissexuais, pansexuais e assexuais. São homens cis, trans ou pessoas que se identificam como homens. Homens solteiros, casados, divorciados. Todas as orientações sexuais e expressão de género são bem-vindas. Alguns são licenciados, mestres, doutorados ou CEOs de empresas; outros têm a escolaridade mínima obrigatória, ou desistiram do ensino formal e tornaram-se autodidatas. São professores, enfermeiros, operadores de caixa, psicólogos, calceteiros, bombeiros, polícias, auxiliares de ação médica, advogados, canalizadores, fisioterapeutas, investigadores, estudantes, jornalistas, desempregados, entre tantas outras profissões e ocupações.

São homens com famílias unidas, outras distantes; algumas mais desestruturadas, outras nem tanto. Todas com as suas peculiaridades e dinâmicas relacionais. Os homens sobreviventes fazem parte do seu — que lê este texto — círculo de amigos. São os seus colegas de escola, de universidade e de trabalho, e fazem parte da sua família. Podem ser o seu irmão ou filho, pai ou avô, namorado, marido ou companheiro, amigo ou vizinho. São os homens do seu quotidiano.

O que têm estes homens em comum?

São homens que vivem em silêncio com as consequências do abuso sexual que sofreram. Homens que não sentem segurança para partilhar com a família ou pessoas próximas o que lhes aconteceu. Que têm medo de serem recebidos com desconfiança, julgados ou acusados de terem culpa — quando, na verdade, a culpa e a responsabilidade é sempre de quem abusa, nunca da vítima.

São homens que vivem confusos, perdidos em pensamentos ruminantes, muitas vezes sem saber como nomear ou compreender o que lhes aconteceu. Questionam-se sobre o passado: «Será que poderia ter feito algo para evitar o abuso?» ou «Foi de alguma forma culpa minha?». Tentam encontrar explicações para algo que lhes é intrinsecamente inexplicável e procuram lógica em eventos que, na sua essência, desafiam qualquer racionalidade.

São homens que carregam vergonha, um peso esmagador que os isola do mundo. Sentem culpa — uma culpa que não lhes pertence, mas que aterroriza a sua vida. São consumidos por sentimentos complexos, como raiva, tristeza, confusão e, em muitos casos, uma profunda solidão.

Mas também são homens que procuram ajuda. Homens que, apesar de tudo, encontram coragem para contactar a Quebrar o Silêncio. Que dão o primeiro passo para reconstruir as suas vidas, sabendo que podem encontrar quem os ajude a não enfrentar tudo sozinhos. Na Quebrar o Silêncio, acreditamos que a superação é possível. Sabemos que o trauma do abuso sexual não define os sobreviventes. Cada homem que nos procura carrega uma história única e uma força imensa, mesmo que, no momento, não a consiga reconhecer. Trabalhamos para os ajudar a redescobrir essa força, a encontrar um caminho para lá da dor, a recuperar a confiança, a alegria e o sentido de pertença.

Independentemente do que aconteceu, importa lembrar: não está sozinho. Na Quebrar o Silêncio encontrará apoio, compreensão e um espaço seguro onde pode ser ouvido sem juízos de valor. Acreditamos em cada homem que nos procura e estamos aqui para ajudar a ultrapassar o impacto que o abuso sexual teve nas suas vidas e a recuperar o controlo sobre o seu futuro.

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Ângelo Fernandes é o fundador da Quebrar o Silêncio — a primeira associação portuguesa de apoio especializado para homens e rapazes vítimas e sobreviventes de violência sexual — e autor do livro “De Que Falamos Quando Falamos de Violência Sexual Contra Crianças?”, um guia dirigido a pais, mães e pessoas cuidadoras com orientações para a prevenção do abuso sexual de crianças.