Dar-se ao respeito e respeitar os códigos dos acontecimentos pode parecer coisa ligeira e fácil. Não o é. Muitas vezes, ouvi dizer que não se leva fato banho para um casamento de igreja, da mesma forma que não se deve vestir um vestido comprido para o almoço. Não sou uma adepta feroz da etiqueta e protocolo, longe disso, mas sei que existem limites e regras, mesmo que não as saiba todas. A vida não se compraz com grandes rigores, já se sabe. E vem isto tudo a propósito da visita de António Costa a Angola e ao facto do nosso primeiro ter tido honras militares e toda a pompa e circunstância exibindo tranquilamente umas calças de ganga, um blazer e uns mocassins e, crime de lesa-majestade, sem gravata. Ora, don’t judge the book by it’s cover e tal, somos muito liberais, os tempos mudaram, há coisas e coisas, muita argumentação pró liberdade e eis que o país se insurge e reclama: o nosso primeiro deveria ter vestido um fato tradicional. Em Angola faz-se coro. Fala-se em falta de “sentido de Estado”.

Bom, por momentos comecei a tecer argumentos possíveis: o homem tinha um fato vestido, caiu e rasgou as calças; o fato afinal foi mal escolhido e não lhe serve; tinha demasiado calor; está apostado em transmitir uma imagem jovem e cool, tinham-lhe dito que... As hipóteses são inúmeras e, no meio de todas as que a imaginação vos quiser oferecer, até pode existir espaço para um singelo: “não pensei nisso, estava bem assim”.

Apreciei o debate e a polémica menor por ver que, afinal, não são apenas as mulheres na política alvo de um escrutínio similar ao que sofrem famílias reais por esta Europa. Dizem-me que há especialistas – hélas! – na indumentária da rainha de Inglaterra. Que a especialidade sirva as vezes de profissão é apenas algo que me pasma, outros acharão perfeitamente normal.

E quem não se lembra do vestido de kiwis de Assunção Cristas? Nessa altura, a líder do CDS lidou com a potencial polémica com descontracção e, no passado ou presente, não se coíbe de vestir o que lhe apetece. As mulheres estão mais expostas a este tipo de comentário. Há sempre uma alma qualquer, ou um batalhão delas, que possui o supremo bom gosto e que maldiz com prazer cabelos, vestidos, brincos, biquínis. Agora calhou a António Costa.

Muitas pessoas disseram que honras militares implicam outra seriedade. Para mim, o Primeiro Ministro não deixa de ser sério por não ir de fato. Há aí muita gente que veste fato e gravata cuja seriedade é altamente questionável. E tão pouco me comove o argumento de que os “militares mereciam...”, mereciam o quê?

Não creio que António Costa tenha querido desmerecer seja em quem for, ou no que for. Dito isto, já cá anda há muito tempo a virar frangos, teria sido ajuizado perceber que a “farda” do costume era a melhor forma de se vestir.