O termo ‘dinheiro cor-de-rosa” [pink money] surgiu nos Estados Unidos no final da década de 1970, quando vários grupos homossexuais estavam organizados juridicamente e não dispunham de patrocinadores para suas ações (publicação de jornais, revistas, realização de congressos etc). Unido, o movimento gay americano definiu um dia de protesto nacional. Nesse dia, toda a nota de um dólar que passasse na mão de um gay deveria ser riscada com uma caneta rosa (pink) no canto superior direito. Da noite para o dia, milhares de milhões de notas amanheceram coloridas apontando a força do pink money.
Em São Paulo, lojas de roupas, de eletro-eletrónicos e utensílios domésticos, marcas, restaurantes dos mais variados estilos, supermercados, hotéis, shoppings, estações de metro, bares, cafés, clubes noturnos e, principalmente, vendedores ambulantes investiram na fachada gay-friendly para conquistar um público exigente, bem-humorado, ávido para consumir o que de melhor a cidade pode oferecer.
Os números do faturamento no período ainda não foram divulgados. Mas a estimativa é de que superem os de anos anteriores. Para se ter uma ideia, durante a parada do Orgulho Gay de 2018, apenas no setor hoteleiro o público LGBTI+ deixou, por dia, 2,4 milhões de reais [cerca de 548 mil euros] na cidade, conforme dados da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de São Paulo – ABIH.
Os consumidores LGBTI+ movimentam uns estimados 3 biliões de dólares por ano ao redor do mundo. Gostam de viajar, adoram uma festa, não abrem mão de comer bem e de se vestir melhor ainda, e têm dinheiro para isso.
São Paulo abriga a maior população homossexual do Brasil e possui bairros reconhecidamente gays. Frei Caneca, um dos shoppings da região central é popularmente identificado como Gay Caneca devido a frequência intensa deste público em busca de produtos, cafés e das nove salas de cinema do estabelecimento. Esta região já é comparada a Castro, em São Francisco, Estados Unidos; e a Chueca, em Madrid, Espanha.
Os jovens dominam o consumo neste período. Atualmente, o mercado de consumo elege este segmento como um filão a ser explorado. E há muito a crescer. Durante a semana do Orgulho Gay divulgaram-se inúmeros objetos de consumo e até uma espécie de estilo de vida gay: livros, filmes, pornografia, moda e viagens.
O potencial de mercado deste consumidor chama tanto à atenção que foi destaque no início do ano no programa Pequenas Empresas, atração jornalística da TV Globo, a mais poderosa emissora brasileira. Focado em empreendedorismo, exibiu o relato de empresários bem-sucedidos no mercado LGBTI+. O ‘dinheiro rosa’ chega a movimentar 150 milhões de reais por ano no Brasil (cerca de 34 milhões de euros), afirmava o texto de divulgação da emissora.
Cresce a quantidade de marcas que promovem ações e produtos voltados para este perfil de consumidor, com a intenção de serem vistas como inclusivas — e, ao mesmo tempo, conquistarem a fidelidade desse público com alto potencial de consumo. A lista que não para de crescer inclui grandes anunciantes dos intervalos da TV, como o Burger King, a Coca-Cola, Skol, UBER e Doritos. Os turistas LGBTI+ representam 10% dos viajantes no mundo e movimentam 15% do faturamento do setor.
Durante a Semana do Orgulho Gay, os mais endinheirados preferiram gastar dinheiro na rua Oscar Freire, ponto de lojas de luxo na região dos Jardins, bairro da cidade, em busca de calças, camisas, cuecas Calvin Klein e frequentaram a sede de outras grifes como Lacoste, Tommy Hilfiger e Diesel. O shopping Iguatemi, onde estão as filiais da Louis Vuitton, Tiffany, Empório Armani, Ermenegildo Zegna, Dolce & Gabbana, Salvatore Ferragamo, entre outras, também foi bastante procurado pelo público gay.
Área de comércio popular, a rua 25 de Março, no centro, também faturou no período. Cerca de 600 mil consumidores fizeram compras na região. O número de clientes superou o do dia das mães, uma data forte no consumo.
Segundo o Instituto de Pesquisa e Cultura GLS, 40% do mercado de consumo gay está em São Paulo; 14% no Rio de Janeiro; 8% em Minas Gerais; 8% no Rio Grande do Sul; 36% são da classe A, 47% da classe B e 16% da classe C. O mercado de consumo gay não tem a mesma dimensão que o mercado heterossexual, mas, vem crescendo exponencialmente.
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