Todos conhecemos a pontualidade britânica. Chegar à hora certa, aqui em Londres, onde estou a viver até ao fim do ano, é chegar atrasado. Para não estarmos insultuosamente atrasados temos de chegar antes da hora, respirar fundo, pedir uma pint de Peroni e ficar alerta até à hora certa para podermos festejar a superioridade moral de termos chegado a tempo, que aumenta exponencialmente quando a pessoa com quem firmaste o compromisso falhou redondamente esse objetivo.
Já cheguei atrasado a um compromisso aqui em Londres (8 minutos, compromisso com um português) e, naturalmente, foi como uma facada entre a VI e a VII costela. Sentes o julgamento no ar, da pessoa com quem combinaste uma cerveja, das barmaids, até dos transeuntes que, através da vitrine de um pub em Highbury and Islington, olham para o teu ar desengonçado e ofegante de quem foi obrigado, por incúria, a apressar o passo, para a tua face ruborescida de quem aumentou a temperatura corporal à pala dos 500 metros marcha nos corredores do metropolitano e do casacão que nos aquece demasiado, mas que tampouco é viável transportar à mão.
É, por isso, notável que esta nação, obcecada com o espaço-tempo, não consiga sair do espaço europeu, digamos, a tempo. Vamos focar-nos nos mais recentes desenvolvimentos em relação a este processo. Agora, quais são os mais recentes desenvolvimentos em relação a este processo? Não faço a mais pequena ideia. Admirarei eternamente quem domine todas as reviravoltas que o Brexit sofreu desde o dia 23 junho de 2016, aproximadamente o dia em que ficámos a perceber que os líderes mundiais sabem tanto o que estão a fazer como um gnu num automóvel de Fórmula 1. A única coisa que faço para tentar perceber o Brexit é pesquisar essa mesma palavra no Google Notícias a partir de Londres, aguardando estoicamente o dia em que o The Guardian revele a bomba “Brexit: All Portuguese Comedians With a Beard to Be Immediatly Expelled From The United Kingdom”.
Isto está-se a tornar numa entediante série que já perdeu o interesse na segunda temporada. Boris Johnson, um gajo que só pode ser português, aceitou o novo adiamento para 31 de janeiro. O Brexit, que já vai no quarto adiamento, já esteve na fase “daqui a uns meses falamos”, que redundou em “isto em março é que me dá jeito”, que não foi possível porque “se é para fazer mal, mais vale não fazer já”, o problema é que “no verão é impossível, então, estou com as crianças” e agora finalmente atingimos o nirvana da procrastinação, o “isto agora mete-se o Natal”.
Dá sempre para nos divertirmos um pouco. Por exemplo, a casa da moeda aqui do sítio está à rasca, porque ficou a arder com não sei quantas moedas comemorativas do Brexit de 50 pence. Que absurdo. Mas enfim, isto são só os meus dois centavos.
Recomendações
Comentários