Este fim de semana, o mundo parou para dois acontecimentos: para o solo de comédia de Bruno de Carvalho, também conhecido por conferência de imprensa, e para o casamento real. Do primeiro, não tenho muito a dizer, acho que um humorista não deve criticar o trabalho de outro humorista, na praça pública. Vou apenas dizer que me ri bastante, embora tenha achado muito longo. Pareceu-me que o público estava muito frio e senti falta de um opening act, talvez do Saraiva, para aquecer o público. Pedia-se mais de um solo, parecia que estava a testar material e muito focado no improviso, pensei que a qualquer momento iria pedir uma letra ou uma profissão aos jornalistas.
Do casamento real, também não tenho muito a dizer. Acho curioso que se chame “real” quando parece tudo menos isso dado todo o alarido com requintes de fantasia e com honras de transmissão em directo em todos os canais de televisão de Portugal e do mundo. Os casamentos já são, por norma, uma forma de ostentar e esfregar a felicidade na cara dos outros, especialmente das amigas encalhadas e, para mim, quanto maior a festa, menos felizes são os noivos, tal como os casais que mais trocam mensagens públicas de afecto no Facebook, são, por norma, os que menos se amam.
Estava a ver aquilo, enquanto esperava que o Bruno de Carvalho desse início ao seu espectáculo e comecei a pensar no seguinte: até que ponto uma mulher casar com um príncipe não poderá ser considerado assédio? As mulheres são condicionadas logo desde pequenas a achar que as histórias de amor são sempre entre uma plebeia e um príncipe. São ensinadas que os homens, desde que bonitos e ricos, até as podem beijar durante o sono sem o seu consentimento. Da mesma forma que um patrão seduzir uma empregada é considerado assédio, até que ponto um príncipe seduzir uma mulher “normal” não o é, dado que também está a usar o seu poder, dinheiro e estatuto para seduzir? Com a agravante de todas as regras e protocolo que castram a mulher e, neste caso, a proíbem de continuar a trabalhar e de, por exemplo, ter redes sociais. Alguém que alerte as Capazes, se faz favor.
A família real serve o mesmo propósito que as polémicas do futebol: entreter as massas. Um povo que se manifesta e revolta mais pelo seu clube de futebol do que pela corrupção de governantes, não merece ter coisas boas. Um povo que se mobiliza mais para ver os noivos que não conhecem, só porque são príncipes e princesas, do que para coisas mais sérias, merece continuar a ter um sistema de poder baseado em castas do que em meritocracia. Tal como no futebol, também as famílias reais estão repletas de escândalos de corrupção e tráfico de influências. No caso do Sporting, se a alegada corrupção for verdadeira, espero que os responsáveis sejam punidos exemplarmente: como sportinguista não admito pessoas que não apresentam resultados no meu clube. Uma coisa é roubar e ganhar, outra é roubar e estar há 16 anos em jejum. Isso é que é admissível.
Sugestões e dicas de vida completamente imparciais:
Um evento: Noite de comédia no Coliseu do Porto, dia 15 de Junho. Mais informações neste link.
Um podcast: Amigo Íntimo de Manuel Cardoso.
Uma série: Westworld, segunda temporada.
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