Quando pensamos que já vimos tudo, eis que o mundo nos surpreende um pouco mais. Maria Vieira, aquela senhora pequenina e amorosa que com os anos começou a transformar-se no senhor Alfredo, taxista rezingão com complexos da sua altura, veio apelar a todos os fumadores para se filiarem no CHEGA e assim conseguirem deixar de fumar como ela fez. Ela disse que o Chega lhe curou a dependência da nicotina. Alguns de vós devem estar a pensar que eu, brincalhão por natureza, estou a inventar uma história e que ela não disse nada disso. Disse, pois. Juro.

Isto fez-me lembrar o célebre discurso do Paulo Futre sobre chineses e chárteres e a forma como o Dias Ferreira se encolheu e levou a mão à cara em estupefação. Imaginei André Ventura a fazer o mesmo, como pessoa inteligente que é, embora não pareça. Se eu não tivesse visto já um porco a andar de bicicleta teria ficado admirado do que este veio dizer sobre as declarações do senhor Alfredo: O CHEGA não é só a cura para Portugal, é a melhor terapia para as nossas vidas, um estímulo à nossa saúde, o renovar da fé. O CHEGA é muito mais do que um partido, é uma missão, uma religião.

Começo a pensar que o objectivo do André é abrir uma clínica para fazer concorrência à Maria Helena e até pensaria que outro objectivo seria o de abrir uma igreja para fazer concorrência à IURD não fosse o facto de ele já estar na cama com evangélicos poderosos. Portanto, o CHEGA é um estímulo à saúde, mesmo como quem diz “Reforça o sistema imunitário” piscando um olho a quem anda cheio de medo da covid. No entanto, também renova a fé, porque a fé é como o cartão do cidadão que, se não formos renovando, caduca e damos por nós barrados à entrada do paraíso porque o CC, Cartão de Crente, expirou e não demos conta.

Ele diz que o Chega é uma religião. E eu pensava que tínhamos um Estado laico com separação entre religião e política, mas pelos vistos não. Relembro que o Chega absorveu o PPV, Partido Pró-Vida, porque tinham muitas causas em comum e porque o pessoal do PPV quer ver se arranja um tachinho. O partido Pró-Vida, faz assim parte de um partido que defende o regresso da pena de morte. Não sei se conseguiram ver aqui alguma incoerência e ironia ou fui só eu: partido PRÓ VIDA – pena de MORTE. Giro. É como os da PRÓ TOIRO, que normalmente até são os mesmos.

O Chega veio para fazer concorrência aos suplementos do Viva Melhor. Ajuda a deixar de fumar e aposto que em breve vamos descobrir que melhora o cálcio dos ossos. O Chega cura tudo e, afinal, aquele amigo preto que o André Ventura se gaba de ter é o professor Karamba.

Quase toda a publicidade assenta no medo, mesmo a que parece assentar no sexo é apenas uma forma de nos meterem medo de não sermos bonitos ou sexys o suficiente se não consumirmos um determinado produto. As vendas das curas duvidosas assentam ainda mais no medo, motivo pelo qual a maioria dos programas de manhã ou tarde têm um Hernâni Carvalho a meter medo às pessoas, para depois ser mais fácil vender-lhes Calcitrin ou o Cogumelo do Tempo, isto enquanto ligam para o 760 porque têm medo de não ter dinheiro suficiente.

Para mim faz todo o sentido esta associação às curas alternativas e desprovidas de provas científicas porque só alguém muito ingénuo e desinformado acredita que o Chega pode curar alguma coisa. O Chega é a homeopatia da política com a diferença que a homeopatia não faz bem nem mal, é inócua.

Esta semana faz um ano que deixei de fumar. Deixei por mim mesmo, não precisei de nenhum partido político nem de nenhuma religião nem suplementos, muito menos os sem provas científicas. No entanto, se o senhor Alfredo deixou há pouco tempo de fumar já percebi porque está tão irritada e com tanto ódio naquele corpito diminuto. Deixar de fumar torna-nos mais irratadiços e com vontade que toda a gente faleça ou volte para a sua terra e quanto mais longe da nossa melhora. Afinal o problema da Maria Vieira não é falta de inteligência, é falta de nicotina. I feel you, Parrachita.

Para ver:

El Autor, na Netflix