O crédito moral da Igreja Católica está em baixo, a um nível negativo cuja recuperação, a acontecer, será lenta. Os casos de abusos sexuais e o impacto da investigação da Comissão Independente desnorteou muitos crentes e alguns, não existem números, optaram pela apostasia. Isto significa o afastamento e a renúncia da sua fé? Não creio, significa o afastamento da instituição que é a Igreja. A fé individual, acredito, manter-se-á. Porventura em outros moldes, mas a ideia de Deus, e do amor de Deus, não precisa de estar ligada à prática organizacional da instituição. Muitas pessoas dizem-se católicas, e serve bem as estatísticas da Igreja, quando na verdade são cristãs, aceitam e praticam os princípios cristãos. Não aceitam os dogmas e as práticas da instituição.
Esta semana, na Europa, surgiu um video que mostra o Dalai Lama num evento que decorreu na Índia, no passado mês de Fevereiro. As imagens mostram o líder espiritual com um miúdo, terá oito ou nove anos de idade, a quem diz: “Suck my tongue” (chupa a minha língua).
E pensávamos nós que os budistas eram distintos dos padres de outras orientações religiosas. Nunca sabemos o que se passa na casa das pessoas, mas o que arrepia, na história de o Dalai Lama pedir a um miúdo que lhe chupe a língua, é pensar em tudo aquilo que pode ter feito a outros tantos miúdos, ao longo do tempo, sempre revestido da santidade e com a cara de quem não parte um prato. A organização por detrás de Sua Santidade, o Dalai Lama, no caso, emitiu um comunicado no qual pede desculpa a todos, dizendo que o líder espiritual gosta de “brincar” com as pessoas, mesmo à frente das câmaras. Brincar.
O meu desgosto com a religião não é de agora. Estudei religiões, respeito tudo e todos, mas o desgosto mantém-se. Não basta pedir desculpa. Lamento. O ruir da credibilidade e da ideia de um fiel da balança, que nos garante alguns princípios morais, é o ruir de tudo aquilo que, à falta de melhor termo, podemos chamar humanismo. Os abusos dos padres da Igreja Católica, ou de outras figuras que se tornam referência na vida de tantos, novos e velhos, mostram quão vulnerável permanece a humanidade que, sob o manto da moralidade, é vítima do pior. Sim, é chocante ver o Dalai Lama pedir a uma criança para lhe chupar a língua. Uma amiga disse-me: Talvez seja melhor pensar que está esclerosado. Talvez esteja, mas não deixa de ser um arrepio considerar tudo o que parece que é e que, no fim, é sempre outra coisa. E sempre para pior.
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