Em 2018, a Academia Nacional de Ciência, Engenharia e Medicina dos Estados Unidos divulgou um estudo relativo aos cuidadores familiares. Aqueles que tomam conta de alguém cuja mobilidade é reduzida, por doença ou idade, que não se basta a si próprio, que não possui autonomia. Aquele que se vê a braços com um filho cuja deficiência é de grau elevado ou marido, ou mulher, pai ou mãe. Aqueles que cuidam por não terem alternativa.
Já se informaram sobre a possibilidade de encontrar um lar e os respectivos custos? Acreditem que irão de espanto em espanto porque os preços são exorbitantes para os rendimentos médios dos portugueses, porque o Estado não dispõe de soluções em número suficiente. Na verdade, é uma realidade quase similar à das creches: não há vaga, é muito caro, não tem condições. Assim, as famílias organizam-se para cuidar de quem precisa e isso implica, para o cuidador, um enorme desgaste físico, emocional e perda de liberdade. O cuidador principal, que perde a sua autonomia, vive em função da pessoa que cuida 24 horas por dia.
Este novo estudo mostra que um número assustador de cuidadores morre mais depressa do que a pessoa a quem presta cuidados. São 63 por cento de cuidadores que morrem mais rápido do que as pessoas que precisam de auxílio nas coisas mais básicas do dia a dia. Não sendo uma profissão é um trabalho de desgaste rápido.
O estudo aborda também a questão da dependência entre cuidado e cuidador e de como este último precisa de auxílio se é confrontado com a morte da pessoa que acompanhou. Além do vazio, do luto, há ainda a confusão face ao tempo que dispõe, agora pode retomar um projecto de vida seu e não consegue. Aconselha-se acompanhamento psicológico. Aconselha-se, para sermos sinceros, um conjunto de ações que na teoria são maravilhosas, razoáveis e sensatas, contudo estamos sempre reduzidos ao que nos é possível fazer financeiramente. Assim, em qualquer fase da vida, perante dificuldades reais, perda de mobilidade, incapacidade, autonomia insuficiente, a pergunta a fazer é: tenho dinheiro para proporcionar o melhor ao meu pai, mãe, marido, avó, etc...? Quando a resposta é não, ficamos presos às nossas possibilidades e, demasiadas vezes, o sacrifício pelo outro é um auto-sacrifício. Até quando? Até sempre porque o Estado não resolve, há o estatuto de cuidador e outras formas de funcionamento mas no fim continua tudo na mesma. E 63 por cento dos cuidadores morrem cedo. E um lar custa uma fortuna, uma unidade de cuidados específicos para lá disso. Esta é uma realidade invisível? Parece que sim.
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