O Estado quer os emigrantes portugueses de volta e está disposto a abrir os cordões à bolsa. Oferece a quem voltar do estrangeiro e já com contrato de trabalho em Portugal até 6.500 euros! É a loucura! Estado mãos largas! No total, são 10 milhões de euros a dividir por 1.500 emigrantes que se inscrevam e queiram voltar. Este resgate dos emigrantes é uma brincadeira de crianças a comparar com outros resgates que temos visto.

Vamos partir do princípio de que o Estado quer que voltem os melhores profissionais e os mais qualificados, certo? Trazer de volta o pessoal incompetente não vale a pena, é deixá-los estar no estrangeiro. Apesar de darem fama de preguiçosos aos portugueses, sempre é melhor do que estarem cá a atrasar-nos.

Ora bem, como é que eu hei de dizer isto? Os portugueses competentes e qualificados que estão lá fora são capazes de ganhar 6.500 euros num mês.

Aliás, dos 6.500 euros que o Estado oferece, apenas 2.614,56 euros é que são mesmo em dinheirinho do bom, o resto é para comparticipar as viagens e o transporte de bens. Ou seja, um emigrante vai mesmo voltar a Portugal, de onde saiu por questões económicas, por 2.600 euros? Andamos a brincar. Sim, consegue pagar metade da renda de um T0 em Lisboa no primeiro mês, enquanto ainda está a fazer as mudanças, mas e depois? Deixa o seu trabalho no Luxemburgo ou em Londres, bem remunerado, sem ter de fazer horas extras de borla, para voltar e ganhar mil parrecos antes de impostos porque o Estado lhe dá 2.600 euritos como incentivo?

Será que dá para vir, receber o cheque, trabalhar dois dias, mandar tudo às urtigas e voltar para o estrangeiro com o dinheiro no bolso? Isso podia ser giro, o verão está aí, vinham visitar a família atestando o Mercedes com o dinheiro do estado, trabalhavam dois dias e voltavam para casa com dinheiro e a mala cheia de batatas, chouriças e bacalhau. Boas ideias estas que eu dou.

Depois, pergunto-me: será que faz sentido dar benefícios fiscais a quem esteve lá fora a descontar para outros ou a quem aguentou cá a crise e ajudou a resgatar os bancos e a pagar os carros de luxo aos políticos? Bem sei que pareço um populista demagogo, mas tenho um André Ventura dentro de mim que hoje é lua cheia.

Um emigrante mais depressa retorna à pátria pelo sol do que por 2.600 euros. Se o Estado quer que o pessoal regresse então que trate deste verão da treta que estamos a ter. Se isto continua assim, o pessoal começa a ver Londres como um bom destino até para fazer praia.

Este incentivo para tentar que os emigrantes qualificados e competentes retornem é o mesmo que tentar curar um cancro com reiki: tem aquele efeito placebo, mas na verdade não resolve nada. Isto é o mesmo que tentar que um pedófilo deixe de ser pedófilo oferecendo-lhe anões.

Sugestões e dicas de vida completamente imparciais:

Para rir: Espetáculo de stand-up comedy para os refugiados portugueses em Barcelona, 20 de julho, bilhetes neste link.

Para ver: Dark, na Netflix.

Para ir: Festival Sol da Caparica (vou estar por lá no palco comédia)