Muito boa tarde. Ora bem, o Benfica espetou cinco zero e eu não estraguei nenhuma amizade. Não sei o que se passa. Não sei se é do verão farrusco ou dos simpáticos conteúdos do canal 11, mas não consegui gozar na cara dos meus amigos que apoiam o clube rival. Mais, eles próprios não apresentaram nenhuma justificação absurda para a derrota, não apontaram um bode expiatório, não recorreram aos habituais sofisticados mecanismos de dissonância cognitiva para desculpar a goleada sofrida. Estou desiludido.
Nem sequer mandei nenhuma mensagem a gozar com o Sporting num grupo de amigos. Nem um GIF. Nem uma capa de jornal de há uns meses que agora terá envelhecido mal. Nada. Guardei para mim aquela cueca do Raul que é do Tomás. Podia e devia ter enviado vários emojis da mão cheia, mas contive-me. Vivemos tempos complicados de rivalidade.
Isto, caros leitores, é o pior que pode acontecer a dois clubes rivais. Ambos considerarem que a superioridade de um é indiscutível, que leva ao conformismo de quem está por baixo e à condescendência de quem está na mó de cima. Espero que esta era de paternalismo acabe num futuro próximo. Não podemos permitir que a reação de quem ganha por 5 ao arquirrival seja confortar o adversário, dizendo “ah é muito cedo, claramente a equipa pode crescer, vocês são melhores do que mostraram hoje, somos todos amigos, vamos dar as mãos, o que interessa é que temos todos saúde”.
Isto tem origem em vários fatores, um deles as boas energias dos dois treinadores. Não há um bate-boca, uma troca de galhardetes. São dois homens que sabem estar. Isto é absolutamente tóxico para o futebol português. Necessitamos urgentemente de formação ao nível da falta de decoro. Mas isto é a Premier League, ou quê? Ao longo deste ano, talvez as máscaras caiam e possamos ver Bruno Lage a chamar “cara de stroopwaffel” a Keiser, ou Keiser a chamar “cabeça de choco frito” a Lage. Só com compromisso dos protagonistas é que poderemos voltar ao ambiente ideal.
De resto, os jogadores de ambas as equipas também têm culpas no cartório. Quantos deles perseguiram o árbitro para lhe gritar na cara? Quantos deles insultaram e provocaram as claques adversárias? Quantos é que encostaram a cabeça num colega de profissão? Exato. Um país campeão da Europa não se pode prestar a estas figuras.
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