Nos últimos anos, têm aparecido vários especialistas em linguagem corporal e em comunicação não verbal, especialmente em painéis de comentário sobre crimes na CM TV. Desconfio sempre de alguma coisa quando se torna moda devido a um fenómeno televisivo e este caso, estes especialistas começaram a proliferar depois de ter estreado e tido algum sucesso a série chamada “Lie to me”. Nessa série, o personagem principal era uma espécie de polígrafo humano que detectava se as pessoas estavam a mentir ou a esconder algo através de gestos e micro-expressões faciais.
Eu também consigo olhar para a cara de um gajo e saber se ele é otário ou não. É um dom que desenvolvi ao longo dos anos; tal como consigo ver pela cara se uma mulher é safada na cama ou não. Foram anos de investigação e formação. Tenho plena convicção nessas minhas capacidades e de que a taxa de sucesso das minhas avaliações ronda os 99%. A diferença é que não lhe chamo ciência nem vou para a televisão mandar bitaites.
Vimos agora no caso do rapaz que matou a colega, em que especialistas analisavam um vídeo que o homicida tinha publicado nas redes sociais a falar dos seus projectos de voluntariado. O especialista disse que ele tinha toques de narcisismo. Uau. Claro que é um gajo com toques de narcisismo, está a publicar um vídeo nas redes sociais. Toda a gente que o faz tem toques de narcisista até porque todo temos um toque disso. Isto é um bocado como as videntes, numa resposta de sim ou não, têm sempre 50% de probabilidade de acertar.
O mais engraçado é que normalmente estes especialistas dão a sua opinião depois de o culpado assumir o crime. São capazes de estar a analisar o vídeo da confissão “Vê, ele ali respirou fundo é porque é culpado” isto enquanto ele está a dizer “Sim, assumo o crime, sou culpado”.
Quando foi a gordalhufas que matou a mãe, a Diana Fialho, eu também vi logo que ela estava a mentir, mas também podia ser fome. Não vi nenhum especialista a apontar-lhe o dedo na altura, mas quando se descobriu que tinha sido ela a culpada, já era fácil de ver traços de psicopatia nas declarações. Sabem muito, com prognósticos no fim do jogo também eu.
Quero ver agora, caso se prove que a Maddie foi realmente raptada e morta pelo alemão, como vão ficar as dezenas de especialistas que apontaram o dedo aos pais da Maddie, dizendo que o comportamento dela e as micro-expressões do pai só podiam apontar culpa do casal.
Às vezes um gajo ajeita-se na cadeira, não por desconforto pelas perguntas, mas porque tem os testículos a ser trilhados entre a perna e a cadeira. Às vezes um gajo coça o nariz, não porque está a mentir, mas porque tem alergias. Às vezes um gajo coça a cara com o dedo do meio, não em sinal de desprezo, mas porque sabe que coçou o rabo com o dedo indicador e ainda não lavou as mãos.
Para ver: Relatório Diogo Batáguas de Maio.
Comentários