Na verdade, Pedro Nuno Santos, para um homem que tem sempre o povo na boca, tem demasiadas associações à nobreza. É o infante do socialismo, via-se como barão do PS, provavelmente será descrito pelos membros da JS como um "granda rei", queria dar uma de Marquês de Pombal e ser conhecido pelas obras faraónicas, mas acabou fora do governo por causa de uma indemnização principesca. Sai agora da corte de Costa, aguardando pacientemente que o ainda monarca seja deposto. Tem é de ter cuidado para que o político mais sortudo do país - a rainha consorte Fernando Medina - não lhe faça um golpe de palácio de São Bento.
Como é habitual nesta altura, Janeiro começou com novidades no mercado de transferências. O Benfica estará interessado em Orkun Kokçu, do Feyenoord, para substituir Enzo Fernandez; Costa foi buscar João Galamba para substituir Pedro Nuno. Dois jovens turcos escolhidos para tomar o lugar de pretensos talentos geracionais que alguns consideram ingratos. A renovação do governo é parecida à renovação dos comboios da CP de que Pedro Nuno tanto se orgulha: descartar o que estava desgastado e recuperar o que estava para lá arrumado.
Costa foi, como habitual, arguto ao escolher um Pedronunista para novo ministro, para que Galamba fique sem horas livres para conspirar contra o ainda secretário-geral. O novo Ministro das Infraestruturas está numa posição extremamente difícil, como se lhe tivessem perguntado se gosta mais da mãe ou do pai. Agora, tem a complexa missão de não ser visto nem como um PN-yes-man, nem como um Galambe-botas. É uma bipolaridade tramada, sobretudo para um político que talvez tenha problemas com o lítio.
Tarefa ainda mais difícil terá a nova ministra da Habitação, Marina Gonçalves. Costa quis contribuir para a sobrecarga das mulheres jovens, oferecendo-lhe uma das pastas mais pesadas. Tem apenas 34 anos - quando António Costa começou a ter responsabilidades governativas ela já lidava com casas, mas de bonecas. Espero honestamente que o primeiro-ministro a mantenha no cargo, para que a ministra não avolume o número de jovens que ficam sem a Habitação.
A julgar pela fraca execução dos fundos europeus e pela obsessão pelo défice, Marina Gonçalves arrisca-se a que o seu legado político seja ela própria oferecer o sofá para um jovem português pernoitar. O facto de se chamar Marina é pertinente, na medida em que muitos portugueses já consideram viver em barcos. O que me preocupa é que Marina tenha pouca experiência profissional para além das funções partidárias. No fundo, fazer a carreira toda no PS é nunca sair de casa dos pais.
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