Deve haver algum ponto da tua vida em que tenhas sentido uma drástica mudança em ti e, se não te lembras de nenhuma, provavelmente ainda não aconteceu. Se te encontras na primeira situação, o que terá espoletado isso em ti? Uma crise existencial? Depressão? Divórcio? Cancro? Uma traição? Na verdade não importa o que aconteceu, mas sim a transformação que se deu em ti, a forma como foste afetado.

Em qualquer uma destas possibilidades, entre outras das mais variadas, há negação, aceitação, sofrimento e, se tudo correr bem, aprendizagem.

Às cegas nós lá vamos abrindo os olhos, como tão sabiamente nos dizia o homem na canção. Tudo é difícil e injusto e não devia estar a acontecer contigo, então choras. Depois gritas ao mundo. O teu Deus desaparece, ou então é aí que o encontras. Seja qual for a tua reação, é legítima e com certeza valerá a pena se te permitires descobrir o que essa experiência te vai ensinar. Leva o teu tempo, faz o que tens a fazer, então ergue-te e vai absorver tudo o que este momento tem para ti.

Há um fim para tudo, não só para o que é bom, mas também para o seu oposto, o que significa que não ficarás neste estado para sempre, a não ser que o prolongues até ao fim.

Depois vem o próximo passo, o (re)começo. Escrevo assim porque podes já ser uma pessoa tão diferente de quem eras que parece que nasceste de novo. Seja como for vais aplicar todos os conceitos que reformulaste, todas as coisas novas que aprendeste e vais colocar em prática a tua nova tabela de prioridades.

Tendo agora outro andar, vais adaptar-te à forma como queres viver. A vida que tinhas antes vai parecer estranha, como um lugar esquecido pela urgência que te levou dali, as tuas memórias mais felizes daquela altura não vão voltar à realidade, terás de aprender a criar novas, talvez as pessoas na tua escola, faculdade ou ambiente de trabalho não tenham ainda aprendido o mesmo que tu e é possível que já não te compreendam. Contudo, vão entrar novas pessoas na tua vida que sabem do que falas, porque também já se perderam e foram encontrar-se tal como tu, verás que até então nunca tinhas criado laços tão fortes com ninguém, porque agora as futilidades são mais palpáveis e mais fáceis de rejeitar e o que realmente vale a pena é o calor no coração que estás agora a sentir.

É aqui que tu começas.


Júlia Stefanato é Barnabé (Na Acreditar, Barnabés são todos aqueles que já viveram ou vivem uma doença oncológica na sua infância ou juventude)

A Acreditar, Associação de Pais e Amigos de Crianças com Cancro existe desde 1994. Presente em quatro núcleos regionais: Lisboa, Coimbra, Porto e Funchal, dá apoio em todos os ciclos da doença e desdobra-se nos planos emocional; social e jurídico. Em cada necessidade sentida, dá voz na defesa dos direitos das crianças e jovens com cancro e suas famílias.

Com a experiência de quem passou pelo mesmo, enfrenta com profissionalismo os desafios que o cancro infantil impõe a toda a família.

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