Agora, a série de ladroagem produzida por uma televisão espanhola e arrecadada pela Netflix é, sem dúvida, o conteúdo televisivo sobre o qual ninguém se cala em 2018. Deve ser por ser espanhola e os espanhóis, como se sabe, não conseguem estar em silêncio e acabaram por nos contagiar. Por ser espanhola também, muita gente se questiona se seria possível conceber uma série com este sucesso em Portugal. Digo eu: pouco provável. 

Se “La Casa de Papel” fosse em Portugal, o assalto nem visibilidade nacional teria, porque enquanto a Fabrica Nacional de Moneda y Timbre espanhola se situa no centro de Madrid, o complexo do Banco de Portugal onde se imprimem notas localiza-se no Carregado. Sim, no Carregado. A sério? Digamos que não é um pano de fundo aceitável para uma série de culto. Onde é que o Professor e a negociadora vão tomar café? No Campera? Absurdo.

Se “La Casa de Papel” fosse em Portugal, as máscaras dos malfeitores não seriam da cara do Salvador Dalí, mas da Paula Rego, o que apesar de tudo assustaria um pouco mais os reféns. A música que motivava os sequestradores não era o “Bella Ciao”, mas o “Grândola Vila Morena”. Os repórteres da CMTV chegavam ao local do assalto primeiro do que a polícia e levavam eles os primeiros tiros, tornando de imediato a opinião pública favorável aos sequestradores.

Se “La Casa de Papel” fosse em Portugal, os assaltantes não quereriam imprimir notas de 50, porque ninguém gosta de deixar um empregado de balcão maldisposto. Então agora, o quê, iam todos ficar ricos mas depois levar com o amuo do sr. Evaristo porque queriam pagar um galão com cinquenta balas? Não, não. Notas de 10 para ninguém se irritar e para dar para pagar o parque. 

Se “La Casa de Papel” fosse em Portugal, o Centeno era o negociador e não cedia a exigência alguma por causa das cativações. Se a “La Casa de Papel” fosse em Portugal, ninguém se importaria caso houvesse um filho de um embaixador sequestrado. Os filhos do embaixador iraquiano basicamente deram cabo da empatia nacional por rebentos de diplomatas.

Se “La Casa de Papel” fosse em Portugal, o Professor, inscrito na Fenprof, acabaria por vacilar no dia da execução do plano, porque estaria em greve geral de docentes. O seu maior medo não seria ser condenado a 16 anos de prisão, mas ser colocado na EB23 de Mogadouro apesar de residir em Caneças. Por outro lado, se Pedro Passos Coelho pode ser catedrático, não vejo o que é que nos impede de conceder o título de professor a outro assaltante (ah ah ah, piada política).

Recomendações

A série referida.

O presidente do PAOK com um revólver, a mostrar ao futebol português quem é que sabe andar nisto.

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