Mas a nova reforçada maioria também conta com feroz oposição com muito rancor contra a lei de amnistia que ainda não está definida e contra o novo governo ainda por validar e empossar.

É um facto que a amnistia para mais de 300 catalães acusados por terem promovido movimentos, embora sem violência, a favor da independência da Catalunha é o recurso que Pedro Sánchez e as esquerdas PSOE e Sumar têm para viabilizar a continuação do governo com etiqueta de progressista em Espanha.

Mas a conveniência de apoio negociado para tornar possível o governo das esquerdas – que consegue maioria absoluta de votos no parlamento de Espanha – também é oportunidade para desenvolver um futuro em comum, envolvendo os diferentes povos de Espanha.

A realidade catalã como a basca ou a valenciana, mesmo a asturiana e a galega são fortes e têm vastas correntes de insubmissão ao centralismo de Castela.

A amnistia para os independentistas catalães oferece a possibilidade de superar erros do passado (em 2017, o governo PP de Mariano Rajoy recusou em absoluta a negociação de uma questão política como é a da Catalunha e optou pela via autoritária, com mão muito dura, da justiça espanholista) e contribuir para  que partes importantes da população de comunidades do reino de Espanha deixe de se sentir excluída.

E sabido que o espanholismo que domina Castela entende que todas as comunidades devem seguir a vontade de Castela que está inscrita na Constituição. Mas a realidade mostra que há comunidades que se fartaram da submissão ao ditado de Castela. Não é legítimo dizer-se que na Catalunha e no País Basco há aspiração maioritária de independência, mas há fortes correntes a favor da evolução do Reino de Espanha para uma federação das diferentes nacionalidades de Espanha.

Espanha já viveu uma notável evolução  institucional, concretizada pela via de negociação pacífica, na transição do franquismo para a democracia, a seguir a 1975.

Foram políticos valentes, esses que concretizaram a transição. É exemplar o modo como o direitista Manuel Fraga Iribarne, o centrista Adolfo Súarez e o eurocomunista Santiago Carrillo negociaram o necessário para que a Espanha tivesse uma Constituição que enquadrasse a realidade espanhola de então. Foi uma negociação com custos eleitorais, mas  que tornou possível, apesar de muitas resistências de nostálgicos do franquismo, a transição democrática em Espanha.

Com a prática de alguns dos líderes políticos de agora duvida-se que a transição espanhola do franquismo para a democracia tivesse sido possível.

É facto que esta evolução que agora está a ser desenhada decorre da ambição de sobrevivência política de Pedro Sánchez no governo. Mas a conveniência de Sánchez favorece a convivência das diferentes comunidades, embora esse seja um caminho recusado pelas direitas espanholistas protagonizada pelo Vox e por parte do PP. 

O acordo agora consumado entre os socialistas e os independentistas catalães do Junts, de Puigdemont, assume muitos desacordos. Significa que vai ter de haver muita negociação política. Mas está definido que é um acordo para toda a legislatura.

A maioria das esquerdas apoiada pelos nacionalistas bascos e catalães vai ser confrontada com constante agreste oposição das direitas. Também da magistratura judicial que até já antecipou uma declaração de oposição à amnistia ainda a ser trabalhada.

O rei Felipe VI, cultiva a procura de consensos. Ele, tal como várias lideranças económicas e sociais ,já terá percebido que uma Espanha mais plural, incluindo as periferias, é uma Espanha mais forte. Independente da querela política que vai continuar com muitos rancores.