Não quero ser uma besta, mas espetámos seis sem sequer precisar da pontaria de Guilherme Tell. Numa inaudita inversão em termos de import-export, Portugal deu chocolate aos suíços, que vão querer esquecer esta noite. Algo que será difícil, dado o elevado número de automóveis de emigrantes portugueses que por lá circulam com um autocolante da FPF.

Fernando Santos - queiramos ou não admitir - cometeu uma espécie de regicídio futebolístico quando escalou um onze sem Cristiano. Ronaldo, neste Mundial, tem sido o D. Sebastião do futebol português: um homem desejado, mitificado, que quer entrar numa guerra para a qual não tem idade nem físico. Nos quartos-de-final, calha bem que enfrentemos Marrocos. É precisamente frente ao país de Alcácer Quibir que teremos finalmente a oportunidade de curar o nosso trauma com sebastianismos. Sendo que - não esquecer - Marrocos eliminou a Roja, saldando assim a dívida histórica de nos terem colocado nas mãos dos espanhóis em 1578.

Mas atenção, tenhamos cuidado com o jogo de sábado como quem tem cuidado ao escolher um hotel em Casablanca: os quartos até podem ser bonitos, mas certamente vão ser quentes. E se formos a penáltis? Eu punha o Ronaldo a marcar, contudo chamava João Moutinho para o motivar. Ele bate bem - se perdermos, paciência. Os marroquinos ficam com Casablanca e nós, bom, we’ll always have Paris… Para além disso, I think this is a beginning of a beautiful friendship.

Entre os portugueses e Gonçalo Ramos, claro. Nasceu em 2001, ano em que Pepe ganhou o direito legal a beber poncha nas folgas do Marítimo B, e soube hoje que ia atar as chuteiras no balneário para ocupar o lugar de um jogador que se estreou a marcar em Mundiais quando ele ainda precisava de ajuda para calçar ténis de velcro. Natural do Algarve, fez uma exibição de encher o Olhão.

Falando em coisas das quais não tem memória, Gonçalo Ramos tornou-se na Dinamarca de 92 desta competição. Alcança uma inesperada glória depois de ter sido repescado por causa de um conflito. Numa semana em que começámos a pensar que o ambiente na seleção se ia tornar numa Jugoslávia, foi preciso recorrer à neutralidade suíça para restaurarmos a união e a paz.

A verdade é que o jogo de hoje - frente ao país que escolta o Papa - nos fez considerar transgressões da tradição católica. É certo que calha na semana antes do Natal e não da Páscoa, mas dia 18 gostaríamos todos de festejar o Domingo de Ramos.

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