Em 2014, António Costa cogitou o seguinte, “epá, estou aborrecido. O que me caía bem agora era criar uma crise interna no meu partido para tirar o choninhas que o lidera neste momento.” Sete anos depois, está à frente do país com mais novas infecções diárias de uma pandemia incontrolável, a contas com uma crise económica sem precedentes, não tem uma boa noite de sono desde o outono de 2019 e interrompe as suas já ocupadas tardes de segunda-feira para vir dizer a palavra “postigo” em directo para as televisões. Belo plano, António!

O quotidiano de António Costa não é de todo invejável, especialmente quando tem de organizar uma conferência de imprensa para revelar adendas a medidas, que provavelmente serão elas próprias alvos de anexos e apêndices. Nesta segunda-feira, António Costa anunciou, na sequência das notícias de ajuntamentos perto de cafés e restaurantes, que esse tipo de estabelecimentos estavam proibidos de vender bebidas ao postigo. Postigo. Sim, sim. Fomos meses e meses a fio bombardeados com complexos temas científicos que rapidamente ficámos a conhecer, para agora sermos obrigados a consultar o dicionário para decifrar um termo de caixilharia. António Costa envergonhava os portugueses do ponto de vista da responsabilidade sanitária, ao mesmo que humilhava os cidadãos de um prisma lexical.

Na verdade, há aqui uma incongruência linguística dos responsáveis políticos. António Costa tem-se sistematicamente referido ao acto de vender alimentos em restaurantes para serem levados para casa como “take-away”, utilizando um estrangeirismo em vez de se referir ao sistema como “comida para fora”. Por outro lado, refere-se à pequena porta ou janela para fazer transacções nesses mesmos estabelecimentos como “postigo”, quando podia muito bem recorrer ao galicismo “guichet”.

É natural que esta utilização errática de empréstimos linguísticos do estrangeiro por parte do governo crie dúvida nos cidadãos. Será que o governo se arrepende da propaganda pré-segunda vaga ou do agitprop? Feita por apparatchiks ou um homens do aparelho? Precisamos de hospitais de campanha ou de back-up? Devemos requisitar os privados ou fazer uma aschluss? Com este frio, o governo apela a que os cidadãos vistam um casaco ou um anorak? E já agora, o último apaga a luz ou o abajur? Precisamos de uma reunião informativa com especialistas sobre tudo isto. Ou de um briefing?

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