A coligação de forças democráticas do Brasil só conseguiu vencer Bolsonaro recorrendo a Lula da Silva, 77 anos. Antes, os democratas americanos tiveram de ir buscar Joe Biden — na altura também com 77, hoje com 79 — para derrotar Trump. Sem comparar Costa com os adversários em questão, a direita portuguesa continua a piscar o olho a Passos Coelho — ainda com meras 58 primaveras, mas um assim um histórico do PSD — como a única forma de tirar o PS do poder. No passado, apostava-se em políticas de reforma. Hoje, apostamos em políticos na reforma. Jovens? Não existem. Os políticos velhos fazem-se passar por jovens; os políticos jovens querem parecer velhos. Os jovens não votam nos partidos porque não há políticas para eles; os partidos não apostam em políticas para jovens porque os jovens não votam neles. Quando nos aproximamos do 50.º aniversário da democracia em Portugal, temo que o lema tenha de ser alterado para "+65 sempre, fascismo nunca mais".

É fascinante que, nestas duas décadas da era da informação, em que tudo muda a cada instante, nada se tenha alterado de forma substancial. Aos oito anos, via as notícias e pensava "olha, este é o mundo dos adultos! Um dia, vou fazer parte dele!". Hoje, aos 28 anos, vejo as notícias e penso "olha, este é o mundo dos adultos! Um dia, vou fazer parte dele! Ah, ah, ah! Estou a brincar. Não vou nada." Quer isso dizer que o Mundo não mudou nos últimos 20 anos? Não, mas os protagonistas são os mesmos. Há um Costa que é ministro; há um Marcelo que está sempre a comentar a actualidade; ligo a TV de manhã e é o Goucha a apresentar o programa; há um futebolista nascido na Madeira que ainda se está a adaptar à forma de jogar do Manchester United e até a resposta da pergunta de quiz "Quem é o presidente-eleito do Brasil?" continua a ser mesma.

Neste momento, lidamos com a democracia como um homem lida com o seu guarda-roupa: não a renovamos. Continuamos a usar os mesmo ténis desde os anos 80 porque são fiáveis, apesar de não estarem propriamente na moda. É, na verdade, uma opção instintiva, já que andam a reaparecer por aí pessoas que calçam botas cardadas. E, ao lado de quem se veste assim, a verdade é que não nos comprometemos e até fazemos um figurão com uns Converse All Star nos pés. Mas os All Star rasgam-se com facilidade, já não acrescentam muito à nossa estética e sobretudo não foram feitos para a forma como hoje se corre. Ao contrário das tais botas, que, apesar de anacrónicas, foram feitas para chafurdar na lama. Estará talvez na altura de irmos comprar uns novos ténis ao Colombo. Que, curiosamente, também não mudou nada nos últimos vinte anos.