Recentemente, tanto Serralves, na exposição fotográfica de Robert Mapplethorpe, como a Gulbenkian, na exposição Pós-Pop, optaram por proteger os seus visitantes de imagens ou esculturas extremamente ofensivas por serem ligeiramente eróticas. Nomeadamente, pichas, pilas, pénis, picharalhos ou como quiserem chamar. O ideal, é que nem sequer usem nenhum destes nomes para não ofender ninguém.
O que algumas pessoas não percebem é que a sexualidade não deve ser mostrada, falada, estudada e muito menos apreciada, sob o perigosíssimo risco de se disseminar a hedionda ideia de que os órgãos sexuais servem para alguma coisa mais que não a reprodução da espécie. Se isso começa a acontecer, o mais certo é toda a gente do mundo embarcar automaticamente numa orgia planetária que dizimará o ser humano à base da fornicação.
Como praticamente toda a população é intelectualmente muito incapacitada, mesmo os que se fingem cultos e vão a museus, é deveras importante que as entidades superiores a proteja de ver tudo o que esteja relacionado a abominação que é a sexualidade e o erotismo. Se, numa distopia completamente louca, se desse o caso de vivermos num mundo em que o sexo fosse visto como algo perfeitamente natural, e que o pudéssemos encontrar na televisão, cinema, documentários, música, pintura, em todo o lado da internet, livros, revistas, na rua e constantemente nas nossas mentes perversas, eu ainda compreendia que os museus também pudessem embarcar nessa loucura auto-destruidora. Não sendo, não vão ser os museus – bastiões do conservadorismo e cuja principal função é não deixar as pessoas pensarem ou questionarem – que vão abrir esse terrível precedente e sujeitar os seus visitantes a representações fálicas, vaginais, anais, e depois de lerem esta crónica esqueçam, para vosso bem, todas estas palavras.
O sexo é para estar escondido, não é para ser visto, falado ou praticado por puro prazer. E se for caso disso, é para ser censurado. Por sermos todos tão mentalmente fracos, débeis e ignorantes, nunca nos esqueçamos o quão importante é que as entidades superiores controlem o pensamento e o discurso da sociedade, para nos proteger, claro, e para que todos nos mantenhamos felizes e na ordem, agora que caminhamos a passos tão largos para o ano de 1984.
Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:
- República Checa: Embora tenha uma ligação emocional muito forte a Brno por lá ter feito Erasmus, acho que não deixo de ser isento quando digo que é um país que merecer muito ser visitado.
- 21 Lições para o Séc. XXI: Novo livro do incrível Yuval Noah Harari, depois de Sapiens e Homo Deus.
Comentários