Parece que dinheiro não nos falta e é curioso conversar com jovens adultos e perceber que tudo isto lhes parece uma treta. É curioso e triste. Porque a ideia que têm é a de que o Estado é uma espécie de sócio silencioso, que nos vai ao bolso sem dó nem piedade. Claro que isto é uma visão simplista que podemos combater com múltiplos argumentos, sem dúvida, mas como argumentar quando nos dizem que não há empregos nas suas áreas, e que apesar dos mestrados que têm não podem prosseguir os seus sonhos?

O que lhes dizer quando, aos quase trinta anos de idade, não conseguem sair de casa dos pais porque o dinheiro não estica?

O que lhes dizer quando nos perguntam se sabemos da percentagem de pessoas, no país, a ganhar menos de mil euros?

É bom relativizar as coisas, saber para onde vão os impostos ou que temos de cumprir as regras do trânsito (o Estado espera arrecadar 13 milhões em multas de velocidade, o que, já se sabe, é um problema dos automobilistas que não conduzem como deve ser). Seria até ideal existirem aulas de educação para a política, talvez desse modo entendêssemos realmente o que nos dizem, o que se faz e como se faz. Seria, aliás, muito democrático se o Orçamento do Estado fosse esmiuçado, revelando o impacto previsto das medidas propostas, o retorno, os benefícios e malefícios. Mas não, é tudo mais ou menos um embrulho que não cheira a Natal.

A cereja no topo do bolo, para mim, é perceber que o Governo se está positivamente nas tintas para a Cultura – nem um por cento do Orçamento, nada que se pareça. Os mais jovens com aspirações artísticas, com verdadeiro talento, encaram tudo isto como? Com descrença, é evidente. Os mais velhos vivem os dias com o encolher de ombros tipicamente português, que é uma versão minimal do “aceita, que custa menos”. Nos jornais escrevem-se crónicas e fazem-se apreciações. No dia-a-dia as pessoas continuam a fazer contas.

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