"Mas Manuel, nos Estados Unidos da América? Estamos a falar do mesmo país que sofre há décadas de uma epidemia de obesidade mórbida? Cujo meio de transporte predilecto a seguir ao automóvel talvez sejam aquelas scooters elétricas de mobilidade que transportam indivíduos com elevados valores de IMC? Da mesma nação que te obriga ingerir três litros de Dr. Pepper ao dia, caso contrário tens o delegado de saúde à perna? Estamos mesmo a falar da república que teve como 45.º presidente um indivíduo que punha ketchup em cima do seu bife?"

Compreendo as reservas, mas é a mais pura das verdades. E notem, não tive de fazer qualquer dieta. É um método que advém da repulsa gastronómica. Simplesmente, um português não engorda nos Estados Unidos porque se recusa terminantemente a descer ao nível culinário desta malta. Reparem, é normal de vez em quando comer porcaria -— sou partidário de McDonald’s em tardes de ressaca — mas esta gente está em cheat day desde 4 de julho de 1776. Tudo aqui é panado! Frango? Siga, pana. Camarão? Pana-me isso. Bolachas Oreo? Pana já. É um povo que só está bem a panar. Quem lhes tira a fritadeira, tira-lhes tudo.

E não se enganem, estivesse eu a passar o verão em Portugal e neste momento e já teria juntado mais quatro ou cinco quilos à minha coleção. Foi sorte geográfica. É que eu consigo comer uma panela inteira de arroz de lingueirão e nem uma colher de mac and cheese. Consigo comer um pão de Rio Maior inteiro com manteiga, mas fico-me por meio bagel com queijo creme. Sou fã de rancho, nem tanto de molho ranch. Prefiro a tosta mista ao grilled cheese; o prego ao Philly Cheesesteak; o frango do Rio de Mel ao frango do Popeye’s. Sou capaz de beber uma dezena de imperiais Super Bock numa tarde, mas não vou além de uma pint de Bud Light. No fundo, é muito mais fácil controlar o apetite num sítio em que tudo é enjoativo.

Neste momento, o dólar está igual ao euro. Como se não bastasse ser má, a comida aqui fica-me mais cara a cada dia que passa. Enquanto eles engordam, a nossa economia emagrece. Como europeus, podemos ficar atrás em todos os indicadores económicos, mas espero que o BCE esteja orgulhoso do nosso défice calórico.