Pouco importa o que foi o terreno antes, quantos existem assim por Lisboa, o tipo de acordos que existem, se é temporário ou permanente, se permite encaixar dinheiro ou nem por isso, etc, etc. Saber coisas dá trabalho, procurar informação é uma chatice, enfim, o melhor será ir com a maré alta da queixa e desdém permanente. Para quê querer conhecimento concreto? Ah, que trabalheira.

Alguns partidos políticos, incapazes de não se deslumbrar com o alarido existente nas redes sociais, estão prontos para perguntar sobre a Madonna e os tais 15 carros, porventura também estarão interessados em saber como se arranjam tantos seguidores no Instagram ou coisa que o valha, mas creio que a nova residente de Lisboa não seja permeável a comissões de inquérito e coisas similares.

Sim, faz uma diferença ter a Madonna a morar em Lisboa. Cada referência à cidade é uma referência ao país e, num mundo de influenciadores pagos a preço de ouro, a senhora elogia gratuitamente. Alguns dizem que não precisamos de mais turistas, que é uma enchente (já foram a Roma ou Paris?), contudo importa recordar que vivemos nesta bipolaridade da queixa: se temos turismo, ai Jesus, que maçada; se não temos, estamos à beira do abismo. Em que ficamos?

Que um presidente da câmara tenha em consideração uma pop star parece fazer muita confusão a algumas almas. Eu acho natural, não acho que seja provincianismo ou parvoíce. Mas Portugal tem esta chama para a queixa, o maldizer, a crítica permanente, sempre distraído em dizer cobras e lagartos de alguém cujo defeito, na maioria das vezes, é ter o que a maioria não tem. A senhora tem 15 carros, mora num palacete, é conhecida no mundo inteiro, porventura sofrerá de influências culturais lusas nos seus próximos trabalhos. Terrível? Não creio.

Parece que, depois dos episódios mirabolantes de Bruno Carvalho, temos de arranjar um entretém. O que seria se fosse de outra forma? Não teríamos tanto encanto. Quiçá.