As regras para apresentar uma candidatura à Presidência da República são claras: só podem almejar pelo mais alto cargo do país os cidadãos portugueses com mais de 35 anos. Tendo isso em conta, tenho uma importante denúncia a fazer, que transmitirei com urgência à Comissão Nacional de Eleições: Marcelo Rebelo de Sousa não se pode candidatar a um segundo mandato como chefe de Estado, uma vez que acabou de regressar aos 14 anos.
A 4 de dezembro, o Presidente da República apelou à maturidade cívica dos portugueses durante o Natal para evitar uma terceira vaga em janeiro. A 21 de dezembro, o adolescente da República surgiu na TVI a dizer que vai conviver com no mínimo duas dezenas de pessoas em três dias. "No dia 23, almoço fora num restaurante com a minha família brasileira. E como são ligeiramente mais do que cinco ficam cinco em duas mesas, não mais que cinco em cada mesa, espaçadas. No dia 23 à noite, janto com os meus irmãos e cunhadas, cinco. No dia 24, janto com outra parte da família, cinco. No dia 25, não janto com ninguém. No dia 26, estou com dúvidas porque tenho a família portuguesa. Os netos e a família portuguesa são sete.", revelou o traquina Marcelo.
No verão, o Presidente da República apelou aos jovens que dessem o exemplo. "Há uma minoria que acha que a pandemia já acabou", disse na altura. "Nenhum português quer que se facilite a vida ao vírus ou que se pense egoisticamente acerca dele", alertava Marcelo em junho. No inverno, o adolescente da República revelou que ia almoçar com a sua família brasileira em duas mesas de cinco. A não ser que a "família brasileira" esteja repleta de elementos que não dirigem a palavra uns aos outros, é difícil acreditar que Marcelo não conviverá com os que se sentarão na mesa oposta à dele. Estamos perante mais um esquema de Marcelo, na mesma onda do que disse ter engendrado para contornar as regras da praia, naquilo que é uma tendência para o incumprimento que encontramos frequentemente em jovens na puberdade.
Marcelo anunciou ao país fazer o que muitos portugueses fazem: ouvir só o que se quer das recomendações da DGS. Como as refeições com muitas pessoas são focos de contágio, organizam-se muitas refeições com menos pessoas de cada vez. Os especialistas dizem que não é uma solução válida, muito menos para esta altura em que o aumento de casos está longe de estar controlado. Mas Marcelo não é o presidente de todos os portugueses, é o presidente de todos os tugas.
Há muitas pessoas na dúvida, ao dia de hoje, se vão visitar os familiares directos, como os pais ou os filhos. Marcelo assumiu na televisão que vai correr todas as capelas. Se uns limitam os seus contactos por um compreensível receio de contrair ou passar o vírus aos familiares, outros tomaram essa opção por responsabilidade cívica. Marcelo não parece ter qualquer uma destas preocupações.
Descrever este périplo pelos vários ramos da família é um equivalente comunicacional a Donald Trump gozar com Biden por usar máscara. É legitimar todas as estratégias arriscadas que qualquer cidadão tenha para visitar um número desaconselhado de pessoas no Natal. É precisamente o oposto de liderança. É como se o Ministro das Finanças não entregasse declarações de IRS há décadas ou se o ministro da Administração Interna não soubesse administrar internamente o seu ministério. Ah, esperem, este último caso também acontece. Ao que tudo indica, não somos governados por adultos.
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