Calor de Agosto na praia de Alvor. Duas jovens portuguesas cansam-se de fazer stories para o Instagram, afinal já estavam naquilo há hora e meia, e decidem ir andar de canoa. Vão destemidas, mas inexperientes. Divertidas, mas desalvoradas. Nisto, entre remadas e conversas sobre a interseccionalidade entre classe, género e raça, como boas millenials que são, vem uma onda mais forte e vira-lhes a canoa. É aqui que entra em cena o nosso herói.

Plano em câmara lenta. Tio Marcelo, que também é professor, presidente da república, beijoqueiro e nadador-salvador, levanta-se da toalha (daquelas que são um paninho feito à mão pela amiga Carlota que há dois anos que começou este seu negócio de toalhas e almofadas de praia, tudo naqueles tons de classe alta) e corre em direcção à água. Peitos a balouçar, pernas ritmadas e determinadas, semblante de quem nem das ondas gigantes da Nazaré tem medo. Marcelo Rebelo de Buchannon, ou Mitch Rebelo de Sousa, como preferirem, lança-se ao mar para salvar as jovens. Por acaso, quando chegou junto delas, já estavam em segurança agarradas à prancha de um outro nadador-salvador. Não obstante, não fosse a sua presença e elas podiam ter-se largado e acabado por se afogar. Portanto, não há dúvidas da importância da sua intervenção para o final feliz desta história.

E por falar em felicidade, sorte a nossa que pudemos ver imagens de tudo isto. Por coincidência, estava exactamente na mesma praia, e à mesma hora, uma equipa de reportagem da SIC. Olhem bem a nossa sorte! Conseguimos ver o nosso Presidente da República num acto heróico absolutamente espontâneo. Dizem as más línguas que as jovens eram actrizes, que foram pagas em drinks pela actuação (uma ideia que a produção deste evento teve com inspiração na Ministra da Cultura) e que foi só mais um golpe de populismo do tio. Não posso acreditar nisso. Os repórteres não podem ir à praia, e por acaso levar todo o material de trabalho? Além de que não há assim tantas praias em Portugal, por isso é perfeitamente plausível que estivessem ali.

As presidenciais estão aí e é deste presidente que precisamos. De um presidente que beija, que salva jovens no mar, que pede moderação no debate. Não precisamos de um presidente que tome uma postura firme, perentória e resoluta contra o fascismo e o racismo, que isso divide o eleitorado e deixa muita gente desconfortável. O que precisamos é de afectos. Principalmente para os brancos, depois logo se vê sobram alguns para os outros.

Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:
- White Fragility: Todos os brancos deviam ler este livro. Principalmente todos os brancos que não conseguem aceitar que Portugal é sistemicamente racista.