Muito cuidado com os sítios onde levam os vossos filhos nestas férias da Páscoa, os miúdos podem muito bem concluir que já não estamos em 2020. A máscara ainda é obrigatória nos espaços interiores fechados, mas fora da escola ninguém é chamado à diretora se andar sem protecção no caminho entre a mesa do restaurante e a casa-de-banho. Por outro lado, provavelmente porque alguém achou que dois anos sem ver a cara dos colegas não chegava, as escolas receberam agora orientação para manter as máscaras no terceiro período.
Neste momento, a utilização de máscara na sala de aula tem apenas uma vantagem, que é esconder o típico muco nasal que algumas crianças vão acumulando no rebordo das narinas por causa das alergias da Primavera. Não tenham dúvidas: quem está a forçar a manutenção desta política sem sentido é o lobby dos putos ranhosos. O que é certo é que, neste país, há estudantes que nunca viram o nariz da sua docente de Matemática, pelo que se tem perdido uma das atividades mais produtivas em termos de criação de laços na meninice - fazer pouco da aparência física da professora. É urgente inverter situações como essa.
Para os adolescentes, estas barreiras físicas são ainda mais castradoras. É possível que haja muito púbere casal a curtir de máscara atrás do pavilhão. Não será propriamente um linguado, antes pescada em papelote. Verdadeiramente, os jovens que cresceram na pandemia não precisam de aulas de Educação Sexual. Primeiro, porque estão há tanto tempo a utilizar equipamento de proteção individual que nem lhes passará pela cabeça ter aversão ao látex do preservativo. Segundo, porque é improvável que tenham qualquer interesse carnal: o vislumbre de olhos e testa será insuficiente para convencer as hormonas a levarem a cabo os devidos saltos. Eventualmente, vamos perceber que toda esta geração alcançará as competências de socialização de um Crómio dos Morangos com Açúcar. No meu tempo, os alunos criavam bichos da seda; hoje, a escola cria bichos do mato.
Este abuso das incapacidades de amotinação dos pirralhos não é novo: a escola é o pináculo do "faz o que eu digo, não faças o que eu faço". Exigimos dos miúdos a disciplina e abnegação que raramente impomos aos adultos. Coisas como fazer trabalhos nas férias; aprender trigonometria; comer tudo o que está no prato mesmo que seja peixe cozido; prestar atenção a um orador entediante durante 90 minutos; participar no corta-mato; chegar a horas; cantar hinos e agora usar permanentemente máscara quando a pandemia está controlada. O governo vai rever as medidas no dia 22 de abril e seria sensato ter em conta o dano que as máscaras estão a provocar na aprendizagem dos miúdos. Caso contrário, é bem possível que, três dias depois, haja um Salgueirinho Maiinha sair da EB2/3 de Santarém para fazer a revolução.
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