O texto representa um apelo à resistência contra mudanças fundamentais que visam construir uma sociedade mais justa e inclusiva. No entanto, é essencial desconstruir os argumentos apresentados, expondo as falhas na sua lógica e a limitação da sua visão.

Primeiro, a ideia de que o "wokismo" promove uma negação da ciência não resiste a um escrutínio sério. O reconhecimento da diversidade de género e orientação sexual é sustentado por décadas de pesquisa nas áreas de psicologia e sociologia. Argumentar com uma abordagem simplista reflete um desconhecimento das suas complexidades. A ciência moderna reconhece que a identidade de género e a orientação sexual são construções sociais e psicológicas complexas, influenciadas por uma interação de fatores pessoais, culturais e históricos. O desenvolvimento da identidade de género e orientação sexual não pode ser reduzido a categorias rígidas ou a uma visão binária, pois cada pessoa vive essas experiências de maneira única e multifacetada.

Portanto, respeitar e acolher essa diversidade não é uma imposição absurda, mas uma evolução do entendimento humano. A aceitação de diferentes identidades e orientações não representa um ataque aos valores tradicionais, mas sim uma adaptação às realidades complexas e multifacetadas da experiência humana e da própria vivência. A sociedade, ao reconhecer e celebrar essa diversidade, não só promove a inclusão, mas também enriquece o debate público e fortalece os princípios de respeito e liberdade.

A crítica à presença de bandeiras arco-íris ou à educação inclusiva nas escolas reflecte um medo infundado da perda de privilégios. Ensinar valores de respeito e igualdade desde cedo não é uma afronta às famílias, mas um complemento indispensável à educação e uma preparação do indivíduo como intérprete tolerante e respeitador da multiplicidade que a comunidade abarca. As escolas têm o papel de preparar cidadãos para uma sociedade plural. Isso não significa impor ideologias, mas sim promover empatia, tolerância e o direito de cada pessoa viver de acordo com as suas opções e sentimentos. 

Além disso, o ataque à comunidade LGBTQIA+ não possui justificativas lógicas ou éticas. Afirmar que direitos como o casamento entre pessoas do mesmo sexo destroem a família é um argumento desgastado e falacioso. O que verdadeiramente ameaça as famílias são questões como a violência doméstica, a desigualdade económica e o acesso limitado a serviços de saúde e educação. Ignorar essas questões reais enquanto se foca na negação de direitos a uma minoria é não só redutor, como também cruel.

O texto também falha ao tratar a inclusão como uma ameaça à liberdade de expressão. Liberdade não significa o direito de discriminar ou de propagar ódio. A criação de um espaço onde minorias possam viver sem medo ou preconceito fortalece, e não enfraquece, a liberdade de todos. A defesa de uma sociedade igualitária não é um acto de censura, mas sim de progresso!

Quanto ao apelo ao regresso de valores cristãos e de um modelo de família bíblico, é importante lembrar que vivemos num Estado laico. A liberdade de religião é um direito fundamental, mas ela não deve ser usada como ferramenta de imposição de uma moralidade única sobre a sociedade. A verdadeira força de uma nação está na sua capacidade de abraçar a diversidade e de respeitar as escolhas individuais.

A crítica ao chamado “revisionismo histórico” é, no mínimo, intrigante. Rever e compreender o passado é um sinal de maturidade enquanto sociedade. Reconhecer injustiças históricas, como o colonialismo e a opressão de minorias, não é sinónimo de apagar a história, mas sim de aprender com ela para não repetir os mesmos erros. Só assim conseguiremos crescer enquanto povo e nação.

O progresso pode ser desconfortável para quem está acostumado a um sistema de privilégios, mas é fundamental para construir um futuro mais equitativo. O Montijo e qualquer outra cidade que escolha o caminho da inclusão, da empatia e da justiça social não está a desvirtuar a sociedade; está a fortalecê-la!

Em vez de temer as mudanças, devemos abraçá-las, reconhecendo que uma sociedade verdadeiramente livre e democrática é aquela em que todos, independentemente de género, orientação sexual, etnia ou classe social, têm o direito de prosperar.

O conservadorismo de Ana Dias Neves pode parecer um apelo nostálgico à tradição, mas, na realidade, é um entrave ao progresso. Responder a esse discurso é necessário, não com ataques pessoais, mas com argumentos que reforcem os valores de igualdade, liberdade e respeito que devem nortear qualquer sociedade moderna.


Opinião de Renato Marques (Consultor de Telecomunicações) e Miguel Dias (Empregado Bancário)