O direito de fazer o que quero. Hoje vivemos na presunção desse direito. Vivemos aqui, no Ocidente e, ainda assim, nem todas as mulheres ocidentais têm autonomia corporal. O que o supremo norte-americano acaba de fazer não é revogar uma lei, é dizer que a moral e o conservadorismo ainda imperam e que as mulheres não têm direitos. Começamos com o aborto – e a seguir?

Nada do que conquistámos está assegurado. Quando me perguntam se faz sentido ser feminista, advogar a causa das mulheres, exigir tratamento paritário, progressão profissional, as mesmas oportunidades, autonomia corporal, tenho por hábito responder, a título de exemplo, que nem em cem anos – estudos assim o mostram – teremos paridade salarial. A perspectiva económica parece ofender as pessoas, mas sem independência financeira as mulheres, na sua maioria, tornam-se dependentes, não podendo decidir muitas vezes o que desejam para a sua vida, até para os seus filhos.

O que aconteceu hoje nos EUA é um retrocesso civilizacional preocupante e perigoso. Os estados aguentaram as suas diferenças?

Milhões de mulheres e de meninas nos estados do Missouri e Louisiana viram os direitos adquiridos ser eliminados minutos depois da decisão do tribunal. Faz todo o sentido ser feminista. O que não faz sentido é voltarmos a discutir a santidade da vida, num moralismo religioso que incute medo e submissão. Citando Obama: “O Supremo não só reverteu um precedente de quase 50 anos como relegou a decisão mais intensamente pessoal que uma pessoa pode tomar aos caprichos de políticos e ideólogos”.

P.S. : entretanto, no Brasil, o presidente considera que uma menina vítima de violação, com 11 anos de idade, não deve abortar. Desculpem, de choque em choque, a pergunta impera: onde vamos parar?

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