O terrorismo trouxe uma vez mais a sua feroz guerra para o coração da Europa. Agora, em Bruxelas, à hora de ponta. A capital da União Europeia está bloqueada e o medo instala-se. É o que eles, os bárbaros, querem: abater a ideia de liberdade, progresso, justiça social.
A Europa deixou de viver em paz. As guerras do Médio Oriente estão a ser transferidas para dentro da Europa. A guerra é física e psicológica. É tempo de as lideranças europeias se deixarem das imbecis e ignóbeis quezílias egoístas de todos os dias. A crise dos refugiados evidencia-nos como falta na Europa um sobressalto de dignidade política. A Europa unida está fragmentada, em pedaços, e é evidente que só unida e solidária, corajosamente regressada aos valores fundadores, pode enfrentar o lado político desta guerra. Nós, os cidadãos, obviamente, quaisquer que sejam as ameaças, recusamos renunciar aos pequenos prazeres de cada dia, seja o de um café enquanto lemos um jornal ou um livro numa esplanada ao sol, a música dançada numa discoteca ou uma viagem de avião. Evidentemente, nada pode fazer retroceder a liberdade que é o nosso primeiro valor.
O BRASIL E CUBA EM ESTRADAS OPOSTAS
A detenção de Berta Soler, líder das Damas de Blanco, e de outros oposicionistas cubanos, neste domingo, no Parque Gandhi, em Havana, no final de uma manifestação de repúdio do governo comunista, ocorrida escassas horas antes de Obama pisar pela primeira vez solo de Cuba, lembra-nos que não há motivo para excesso de entusiasmos com a abertura política em Havana. Mas o povo cubano, sempre embalado pelo ritmo musical da salsa, pode sorrir: o horizonte é de esperança. A evolução em Cuba tende a ser lenta, gradual, mas é irreversível rumo a uma vida menos constrangida. É o oposto do que se sente no Brasil de hoje, um país que parece tomado pelos ódios.

Milhões de brasileiros estão a ser chamados para o protesto, furioso, nas ruas. Todos sabem que todo o sistema político-económico do país está corroído pela corrupção. É um mal que se propagou, transversal. Mas o que está em fundo a este movimento que precipita multidões para as manifestações não é um confronto entre o bem e o mal ou entre decência e corrupção, é uma luta tremenda pelo poder.

Esta guerra política ficou desencadeada quando em outubro de 2014 Aécio Neves perdeu a eleição presidencial em que Dilma Rousseff foi reeleita. Os anti-PT não aguentaram e desesperaram com a realidade de quatro eleições presidenciais ganhas pelo PT (Lula em 2001 e 2005, Dilma em 2009 e 2013) e a perspectiva de, após estes 16 anos, haver continuação com o regresso de Lula à presidência nas eleições de 2017. Os opositores fizeram cálculos e perceberam que Lula é, para eles, a ameaça. Dilma não tem mão para liderar o país mas Lula saiu da presidência em 2009 com taxas de aprovação tão altas que serviram para garantir a eleição e reeleição da fraca e desconhecida Dilma. Lula continuava a ser trunfo, portanto, é o ás a abater. Num país onde o voto é obrigatório, Lula tem o apoio dos muitos milhões de sem terra nem rumo que vêem nele o líder que lhes deu benefícios do dinheiro público, que lhes restituiu alguma dignidade e amanhãs. Por isso, para os opositores, o ataque teria de ser de alto calibre letal: empurrá-lo para o papel de bandoleiro que rouba o dinheiro dos brasileiros. O aparelho de poder de Lula pôs-se a jeito: não foi imune à embriaguez do dinheiro e do poder, envolveu-se nas teias da corrupção que envolve todo o sistema político brasileiro.

É aqui que entram em campo, nesta guerra anti-vermelhos que tem como alvo central abater Lula, dois poderes que se fizeram parte aliada: o aparelho policial-judiciário e o sistema dos media, convergentes para o fim de remover Lula e o PT do poder, objetivo que ficou por conseguir de forma democrática ao longo da última década e meia.

Todos pudemos notar nos últimos dias como os magistrados que conduzem a (necessária) investigação criminal não olham a meios para, com abusos vários, alcançarem os objetivos que se revelam claramente políticos. São múltiplos os indícios de que o PT está repleto de corrupção que toca em Lula. Mas todo o cidadão tem direito a que a investigação de que é alvo seja imparcial e justa. E, se a intenção é a boa de caçar todos os que têm as mãos sujas, então também será de avançar, com respeito pela prática do Direito, por todo o espectro político igualmente contaminado.

Paralelamente, os media, intensamente concentrados e influentes, veemente opostos ao PT, com a Rede Globo na hegemonia, meteram-se nesta guerra, teatralmente, inflamando o cenário, como agitadores e alimentadores do protesto: "O que a Globo sabe fazer magistralmente é manipular contextos", escreve Carlos Castilho, jornalista há 35 anos e professor agora a concluir o doutoramento em Gestão do Conhecimento na Universidade de Santa Catarina, nesta análise preciosa para conhecermos o sistema dos media no Brasil. Também se recomenda este retrato do actual "turbilhão de versões e contra-versões", igualmente por Carlos Castilho. É assim que o Brasil de agora está em espiral depressiva confrontado com uma crise gigantesca.

O que está a acontecer em Cuba vai no sentido oposto, o da esperança. A vida segue precária na ilha caribenha, grande parte dos seus 11 milhões de habitantes sofre de grande escassez (um professor universitário recebe um salário que não chega a 60 euros por mês) e para a maioria arranjar o que comer é uma luta diária: o cabaz básico mensal de alimentos subsidiados apenas dá para uns dez dias. O Estado é o maior empregador em Cuba mas o salário mensal médio é de 28 euros. A agricultura tem a mão-de-obra de 10% do país. As remessas do milhão e meio de cubanos no exterior são um essencial suporte para a subsistência das famílias. Mas a saúde funciona, a esperança de vida está nos 79 anos e em Cuba vivem umas 1800 pessoas com mais de 100 anos. A escola funciona e a alfabetização de adultos está nos 100%.

Há muralhas por derrubar: o regime desmente mas há evidência de continuação de prisões políticas mascaradas como casos de delito comum. O acesso à internet continua por liberalizar para a maioria da população cubana. É um dos pontos que Obama levou na agenda e a Google integra a comitiva. Tal como a PayPal e a Airbnb. Os muros estão a cair, é irreversível.

O papa João Paulo II abriu o caminho para a esperança ao apelar, em 1998, em Havana: "Que Cuba se abra ao mundo e que o mundo se abra a Cuba". Os papas Bento XVI e, sobretudo, Francisco deram sequência a esse caminho. Quem imaginaria há meia dúzia que um presidente dos EUA iria a Cuba apertar a mão a um Castro? Há muitos problemas para resolver mas o caminho já não tem volta para trás. A distensão com Cuba e com o Irão mostram que a presidência Obama trouxe melhorias aos mundo que, no entanto, está cada vez mais perigoso pelo terrorismo.

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