Milhões de brasileiros estão a ser chamados para o protesto, furioso, nas ruas. Todos sabem que todo o sistema político-económico do país está corroído pela corrupção. É um mal que se propagou, transversal. Mas o que está em fundo a este movimento que precipita multidões para as manifestações não é um confronto entre o bem e o mal ou entre decência e corrupção, é uma luta tremenda pelo poder.
Esta guerra política ficou desencadeada quando em outubro de 2014 Aécio Neves perdeu a eleição presidencial em que Dilma Rousseff foi reeleita. Os anti-PT não aguentaram e desesperaram com a realidade de quatro eleições presidenciais ganhas pelo PT (Lula em 2001 e 2005, Dilma em 2009 e 2013) e a perspectiva de, após estes 16 anos, haver continuação com o regresso de Lula à presidência nas eleições de 2017. Os opositores fizeram cálculos e perceberam que Lula é, para eles, a ameaça. Dilma não tem mão para liderar o país mas Lula saiu da presidência em 2009 com taxas de aprovação tão altas que serviram para garantir a eleição e reeleição da fraca e desconhecida Dilma. Lula continuava a ser trunfo, portanto, é o ás a abater. Num país onde o voto é obrigatório, Lula tem o apoio dos muitos milhões de sem terra nem rumo que vêem nele o líder que lhes deu benefícios do dinheiro público, que lhes restituiu alguma dignidade e amanhãs. Por isso, para os opositores, o ataque teria de ser de alto calibre letal: empurrá-lo para o papel de bandoleiro que rouba o dinheiro dos brasileiros. O aparelho de poder de Lula pôs-se a jeito: não foi imune à embriaguez do dinheiro e do poder, envolveu-se nas teias da corrupção que envolve todo o sistema político brasileiro.
É aqui que entram em campo, nesta guerra anti-vermelhos que tem como alvo central abater Lula, dois poderes que se fizeram parte aliada: o aparelho policial-judiciário e o sistema dos media, convergentes para o fim de remover Lula e o PT do poder, objetivo que ficou por conseguir de forma democrática ao longo da última década e meia.
Todos pudemos notar nos últimos dias como os magistrados que conduzem a (necessária) investigação criminal não olham a meios para, com abusos vários, alcançarem os objetivos que se revelam claramente políticos. São múltiplos os indícios de que o PT está repleto de corrupção que toca em Lula. Mas todo o cidadão tem direito a que a investigação de que é alvo seja imparcial e justa. E, se a intenção é a boa de caçar todos os que têm as mãos sujas, então também será de avançar, com respeito pela prática do Direito, por todo o espectro político igualmente contaminado.
Paralelamente, os media, intensamente concentrados e influentes, veemente opostos ao PT, com a Rede Globo na hegemonia, meteram-se nesta guerra, teatralmente, inflamando o cenário, como agitadores e alimentadores do protesto: "O que a Globo sabe fazer magistralmente é manipular contextos", escreve Carlos Castilho, jornalista há 35 anos e professor agora a concluir o doutoramento em Gestão do Conhecimento na Universidade de Santa Catarina, nesta análise preciosa para conhecermos o sistema dos media no Brasil. Também se recomenda este retrato do actual "turbilhão de versões e contra-versões", igualmente por Carlos Castilho. É assim que o Brasil de agora está em espiral depressiva confrontado com uma crise gigantesca.
O que está a acontecer em Cuba vai no sentido oposto, o da esperança. A vida segue precária na ilha caribenha, grande parte dos seus 11 milhões de habitantes sofre de grande escassez (um professor universitário recebe um salário que não chega a 60 euros por mês) e para a maioria arranjar o que comer é uma luta diária: o cabaz básico mensal de alimentos subsidiados apenas dá para uns dez dias. O Estado é o maior empregador em Cuba mas o salário mensal médio é de 28 euros. A agricultura tem a mão-de-obra de 10% do país. As remessas do milhão e meio de cubanos no exterior são um essencial suporte para a subsistência das famílias. Mas a saúde funciona, a esperança de vida está nos 79 anos e em Cuba vivem umas 1800 pessoas com mais de 100 anos. A escola funciona e a alfabetização de adultos está nos 100%.
O papa João Paulo II abriu o caminho para a esperança ao apelar, em 1998, em Havana: "Que Cuba se abra ao mundo e que o mundo se abra a Cuba". Os papas Bento XVI e, sobretudo, Francisco deram sequência a esse caminho. Quem imaginaria há meia dúzia que um presidente dos EUA iria a Cuba apertar a mão a um Castro? Há muitos problemas para resolver mas o caminho já não tem volta para trás. A distensão com Cuba e com o Irão mostram que a presidência Obama trouxe melhorias aos mundo que, no entanto, está cada vez mais perigoso pelo terrorismo.
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